Estudo revela dispersão preocupante de microplásticos na Amazônia devido ao saneamento precário

O precário sistema de saneamento básico na Amazônia está contribuindo significativamente para a dispersão de plásticos e microplásticos nos diversos ecossistemas da região. Esse fato foi destacado durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Pesquisadores afirmam que os rios do bioma, que compõem o maior sistema fluvial do mundo, estão se tornando hotspots desses contaminantes.

Estudos apresentados na mesa-redonda sobre plásticos em águas brasileiras indicam que 70% das cidades da Amazônia brasileira não possuem tratamento de água adequado. José Eduardo Martinelli Filho, professor da UFPA, destacou que a maioria das áreas urbanas analisadas apresenta condições baixas ou precárias de saneamento. Somente 2,6% dos 313 municípios avaliados possuem condições adequadas.

Os sistemas de disposição de resíduos sólidos foram classificados como os mais satisfatórios, enquanto a coleta de águas residuais e sistemas de drenagem de águas pluviais foram considerados deficientes. Exemplos claros dessa precariedade incluem a cidade de Altamira, que possui apenas uma estação de tratamento de água, e a região metropolitana de Manaus, onde apenas 32% das residências têm acesso a esgoto sanitário público.

A pesquisa também revelou que o bioma amazônico recebe anualmente 182 mil toneladas de plástico. Esses resíduos, além de serem descartados pelas cidades da região, também são originários de países vizinhos, como Colômbia e Peru. Estudos indicam que esses plásticos atingem diversas espécies e ambientes, sendo encontrados inclusive como materiais utilizados por aves na construção de ninhos.

Um estudo em andamento identificou que a espécie de ave japu (Psarocolius decumanus) tem incorporado detritos plásticos em 66,67% de seus ninhos. Esses materiais são geralmente fibras e cordas provenientes do descarte da pesca. Além disso, as macrófitas aquáticas no rio Amazonas também retêm plásticos de diferentes dimensões.

Os pesquisadores chamaram atenção para a falta de estudos focados especificamente no bioma amazônico, destacando a necessidade de melhorar a infraestrutura local de pesquisa e formação de cientistas. As limitações metodológicas e a falta de padronização dificultam uma avaliação precisa dos impactos dos microplásticos e a implementação de medidas de mitigação eficazes.

Apesar do aumento significativo das pesquisas sobre microplásticos globalmente, um consenso sobre sua definição ainda é ausente. As partículas são geralmente definidas como plásticos com tamanho entre 1 e 5 micrômetros, mas a falta de padronização ainda impede comparações entre estudos. Casos como o do rio dos Bugres, em São Vicente, SP, mostram que a poluição por microplásticos pode ser alarmante, com registros de 100 mil microplásticos por quilo de sedimento seco.

Fonte: Saneamento precário facilita a dispersão de plástico e microplástico na Amazônia

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