Estudo alerta para desigualdade na coleta de dados de biodiversidade e suas implicações políticas

O monitoramento da biodiversidade tem uma importância crescente na definição de estratégias de conservação global para as próximas décadas. No entanto, um estudo recentemente publicado na revista Science e liderado por Millie Chapman, pós-doutoranda do Centro Nacional de Análise e Síntese Ecológica da Universidade da California – Santa Barbara (NCEAS), destaca um tema crítico: a coleta de dados de biodiversidade está desigualmente concentrada em países ricos. Esta distribuição desproporcional pode levar a uma implementação inequitativa de projetos de conservação, ameaçando a justiça social nas políticas ambientais.

Chapman explica que os dados de biodiversidade oferecem uma ‘visão sem precedentes sobre padrões ecológicos em escalas globais’, o que pode informar significativamente as prioridades de conservação das nações. Contudo, quando aplicados à tomada de decisão, esses dados frequentemente revelam mais sobre nossas próprias estruturas sociais e políticas do que sobre as espécies que buscam proteger. Histórias de colonialismo, disparidades econômicas e raciais, e até conflitos armados são refletidas no modo como os dados de biodiversidade são coletados e utilizados.

Chapman começou seu trabalho neste campo enquanto estudava ciência e política ambiental na UC Berkeley, onde liderou um grupo de leitura interdisciplinar focado em justiça de dados e equidade algorítmica. Os co-autores da pesquisa, que incluem especialistas em ciência da computação e ecologia, questionam se os ‘melhores dados disponíveis’ são de fato um padrão adequado. Eles argumentam pela necessidade de uma compreensão mais aprofundada do contexto social, cultural e político por trás dos dados ambientais.

Por quase 30 anos, o NCEAS tem sido um centro pioneiro em ciência de síntese, onde grupos de especialistas interdisciplinares utilizam dados existentes para responder a perguntas complexas. Essas iniquidades contextuais dos dados são conhecidas pelos cientistas há tempos, mas com o aumento global da atenção e aplicação destes para conservação direta, incluindo um mercado multibilionário em compensações de biodiversidade, há um risco de que tais inequidades sejam amplificadas e preservadas pelas políticas.

Chapman e sua equipe defendem uma abordagem que vai além de correções tecnocráticas – é preciso de uma colaboração mais interdisciplinar e inclusiva em política científica para garantir que os dados de biodiversidade sejam aplicados com a maior justiça possível, considerando todas as suas limitações e iniquidades inerentes.


Fonte: https://phys.org/news/2024-01-social-equity-biodiversity-interdisciplinary-policy.html

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