Ecologista reavalia soluções de plantio de árvores e alerta contra greenwashing na COP28

A urgência das mudanças climáticas nos leva a buscar soluções imediatas e impactantes, e o plantio em massa de árvores, durante um período, foi saudado como a resposta heroica ao nosso dilema crescente. No entanto, Thomas Crowther, ecologista e ex-assessor científico-chefe da campanha Trillion Trees da ONU, levantou um ponto de vista inesperado durante a COP28 em Dubai: ele pediu aos ministros do meio ambiente para que reduzissem a onda de plantação de árvores. O ecologista alertou sobre as armadilhas dessa prática, que muitas vezes são usadas pelos países como desculpa para evitar cortes reais nas emissões de carbono.

O próprio trabalho de Crowther, que inicialmente estimulou o frenesi global de plantio de árvores em 2019, foi baseado em sua pesquisa que identificou espaço para um adicional de 1,2 trilhão de árvores na Terra. Isso gerou um movimento que logo foi adotado por empresas e líderes mundiais, como Shell e Donald Trump, que embarcaram nessa ideia atraente, utilizada por vezes para mascarar a contínua emissão de gases de efeito estufa. No entanto, a pesquisa despertou um turbilhão de críticas científicas, acusada de superestimar tanto o terreno adequado para restauração florestal quanto a quantidade de carbono que as árvores poderiam capturar. Em uma correção, os autores do estudo esclareceram que a restauração de árvores é ‘apenas uma das soluções mais eficazes’, com o potencial de absorver no máximo um terço do carbono na atmosfera, sujeito a grandes incertezas.

Em um recente artigo com uma abordagem mais matizada, Crowther mostrou que a preservação de florestas existentes pode ter um impacto climático mais significativo do que o plantio de novas árvores. Com isso, ele participou da COP28 para dissipar o greenwashing estabelecido por seu estudo anterior e promover um investimento mais responsável na natureza. Ele destaca a importância de canalizar recursos para comunidades indígenas e agricultores que realmente convivem com a biodiversidade.

Embora Mariam Almheiri, ministra das mudanças climáticas e do meio ambiente dos Emirados Árabes Unidos, tenha elogiado a apresentação de Crowther, ela prosseguiu apresentando orgulhosamente o objetivo do país de plantar 100 milhões de manguezais até 2030. Paralelamente, a grande expansão planejada pela empresa estatal de petróleo ADNOC tem sido apontada como incompatível com os objetivos do Acordo de Paris para a contenção do aquecimento global. Segundo a pesquisadora Kate Dooley, o armazenamento de carbono proporcionado pela natureza tem caráter temporário e, portanto, não se equipara à eliminação permanente das emissões de combustíveis fósseis.

Crowther expressou otimismo ao observar que outros ministros falaram em capacitar comunidades indígenas na proteção e cultivo de florestas. A COP28 trouxe avanços incluindo, pela primeira vez, referências ao objetivo da Declaração de Glasgow de reverter a perda florestal até 2030, e a necessidade de apoio e investimento reforçado nessa meta. Em contraste com soluções de mercado de carbono ainda em debate, Crowther enfatiza a restauração genuína da natureza, apesar dos desafios persistentes de greenwashing, como demonstrado pelo paradoxal investimento da Noruega no Fundo Amazônia e o subsídio de novos projetos de óleo e gás.


Fonte: https://www.wired.com/story/stop-planting-trees-thomas-crowther/

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