Desafios e inovação marcam o crescimento de startups na região Norte

A Região Norte do Brasil, famosa pelo seu imenso potencial bioma amazônico, vem ganhando destaque no cenário de startups de base tecnológica. A despeito do crescente interesse e do fortalecimento do seu ecossistema de inovação, as empresas dessa região ainda enfrentam uma série de desafios estruturais que dificultam o seu amadurecimento e a atração de investimentos significativos de venture capital.

Segundo relatório da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), embora haja um crescimento — passando de 88 para 121 empresas entre os últimos anos — essa região ainda representa somente 4,7% das 2.593 startups mapeadas no país. Especialistas apontam para o fato de que, apesar de avanços recentes em visibilidade e interesse pelo Norte, há ainda um caminho longo a percorrer.

Fatores como infraestrutura deficiente, dificuldades na formação de capital intelectual e a geração de talentos, bem como a distância de centros dinâmicos de negócios, são citados por lideranças de impacto regional como Mayrá Casttro, fundadora da InvestAmazônia, e Alexandre Mori, CEO do Floresta Hub. Ademais, o ‘custo Amazônia’, referindo-se às dificuldades e altos custos logísticos da região, representa uma barreira adicional.

A história da startup Orçafascio, que desenvolveu um software de orçamento de obras, ilustra bem essa realidade. Fundada em 2015 no Amapá após a chegada da banda larga, a startup lidou com obstáculos como a falta de conhecimento sobre o próprio conceito de startup e desafios de logística, que acabaram levando o fundador a migrar as operações para São Paulo, acompanhado de 30 famílias de colaboradores.

Apesar dessas adversidades, o espírito empreendedor segue vivo na região. Antonio Fascio, fundador da Orçafascio, destaca que há uma necessidade de outro olhar dos investidores, dada a capacidade comprovada de inovação e criação de valor das startups locais. Mesmo sem ter recebido investimentos por parte de fundos de venture capital, a Orçafascio prevê um faturamento de R$ 15 milhões em 2023 e faz parte de iniciativas como o Tucuju Valley e a Amapatec, voltadas ao desenvolvimento de um ecossistema tecnológico mais robusto no Amapá.

Algumas startups do Norte ganharam reconhecimento, como a Proesc, uma edtech que captou R$ 8 milhões, e a Meu Pé de Árvore de Rondônia, notabilizada pela recuperação de áreas degradadas.

Enquanto os investimentos vindos de venture capital são escassos, recursos de subvenção específicos para a região, como o PPBio e o Inova+, apontam para um caminho de financiamento diversificado. O relacionamento com investidores é considerado crucial pelos líderes locais, que veem na atração de smart money — capital inteligente que traz mais do que apenas recursos financeiros — um impulsionador do crescimento sustentável.

Outro aspecto inovador do Norte é a presença de startups de bioeconomia, que aliam desenvolvimento econômico à conservação ambiental, explorando a biodiversidade regional de forma sustentável. Segundo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), existem pelo menos 204 startups nesse segmento na Amazônia Legal, desenvolvendo produtos inovadores em setores como energia renovável, cosméticos e alimentos. Essas empresas demonstram a viabilidade de um modelo econômico que valoriza o standing forest frente a atividades de exploração tradicionais.


Fonte: https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2023/12/ecossistema-de-startups-da-regiao-norte-cresce-mas-enfrenta-desafios-para-amadurecer.ghtml

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