O conceito de infraestrutura urbana está sendo revisto pela óptica da bioeconomia circular, com foco no desenvolvimento de ecossistemas urbanos cuidadosamente projetados para oferecerem serviços públicos de maneira sustentável. Essa nova abordagem de paisagismo urbano busca a criação de habitat engenheirados que funcionem de maneira similar à infraestrutura construída, porém utilizando-se do solo, vegetação, fauna e suas interações, ao invés de materiais intensivos em carbono, como aço, concreto e vidro.
Essa prática interdisciplinar poderá fomentar uma nova visão sobre a aparência e o funcionamento das cidades. Em contraste com os parques e jardins usuais compostos frequentemente de monoculturas, estes novos habitats urbanos têm como meta maximizar a biodiversidade, a capacidade de absorção de carbono e outras funções vitais, replicando a complexidade de florestas maduras naturais.
A empresa Afforestt, sediada em Bangladesh, se utiliza da ciência ecológica para construir florestas resilientes em locais onde a vegetação foi retirada. Os projetos da companhia são variados e vão desde jardins de escritórios corporativos até complexos de apartamentos, com o objetivo de cumprir metas de sustentabilidade corporativa ou criar microambientes agradáveis no desenvolvimento urbano. A empresa segue a técnica Miyawaki, um processo passo a passo que inclui desde a seleção de espécies nativas e adaptadas às condições locais até o monitoramento cuidadoso dos locais de plantio, garantindo que uma floresta autossustentável e livre de manutenção possa se estabelecer em 2 a 3 anos.
Em uma escala ainda maior, a empresa chinesa Turenscape, liderada por Kongjian Yu, desenvolveu projetos como o Yanweizhou Park em Jinhua City, onde terraplenagem e a vegetação nativa criam um mecanismo “esponja” para absorver o excesso de água da chuva e limitar inundações. Outro exemplo é o Shanghai Houtan Park, onde foi criada uma zona úmida capaz de tratar biologicamente a água poluída do Rio Huangpu, ao mesmo tempo em que serve como um buffer contra inundações para a cidade.
Na Holanda, a empresa Felixx também está engajada na integração de ecologias urbanas mais verdes, desenvolvendo áreas de alta biodiversidade e contribuindo para o desenvolvimento urbano sustentável no Brainport Industries Campus. A companhia ajudou a criar um ‘Catálogo de Soluções Baseadas na Natureza para Resiliência Urbana’, apoiando formuladores de políticas na implementação de vegetação adaptada a condições geográficas e hídricas específicas.
A paisagem urbana baseada em bioeconomia é uma resposta às mudanças climáticas, oferecendo não apenas adaptação, mas mitigação. Cidades que cobrem apenas 3% da superfície terrestre, mas consomem a maior parte da energia gerada e são responsáveis por cerca de 70% das emissões de carbono, podem se beneficiar enormemente dessa transição para o uso de ecossistemas em detrimento de materiais extraídos. Mais vegetação significa mais biodiversidade, e habitats criados através da bioeconomia contribuem para minimizar os impactos da atividade humana sobre as populações animais. A incorporação de soluções bio-baseadas na infraestrutura urbana se apresenta então como um caminho robusto e integrado para reduzir as emissões de carbono associadas à vida urbana, indo além de políticas focadas apenas em materiais de construção renováveis ou serviços de reciclagem.
Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/building-forests-and-wetlands-as-urban-infrastructure/