No contexto atual, onde a crise climática se apresenta como uma ameaça existencial, a bioeconomia emerge como uma proposta viável para mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas e melhorar a produção de alimentos. Um relatório recente aponta a bioeconomia como um caminho promissor para apoiar as áreas rurais na África e em outras regiões, enfrentando desafios ambientais e assegurando um desenvolvimento sustentável.
Com base em dados do ‘The State of the Bioeconomy in East Africa Report 2024’, elaborado pelo Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo, a Comissão de Ciência e Tecnologia da África Oriental e o Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia de Insetos (ICIPE), a utilização de recursos biológicos renováveis, aliada ao avanço do conhecimento científico e tecnológico, tem o potencial de impulsionar o crescimento econômico, além de aumentar a segurança alimentar, enquanto protege o meio ambiente.
Por exemplo, em uma zona propensa a secas no Quênia Oriental, a agricultora Regina Muthama treina outros produtores locais no plantio integrado de cultivos e árvores. Essa prática não apenas otimiza o uso da água, mas as árvores também oferecem sombra importante para as plantas alimentícias, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e prevenindo a erosão do solo.
A região da África Oriental, segundo especialistas, é abençoada por extensas terras férteis e uma rica biodiversidade, além de uma população jovem. Isso posiciona a região como potência na inovação em bioeconomia. No entanto, conforme afirma Abdou Tenkouano, diretor-geral do ICIPE Quênia, o desenvolvimento da bioeconomia precisa engajar os jovens e atender às suas necessidades de emprego, uma vez que eles representam a maior faceta demográfica da África e do sul global.
Estima-se que mais de 65% da população da África Oriental dependem de recursos biológicos para alimentação, energia, medicina, entre outros propósitos. A integração de práticas bioeconômicas pode resultar em um modelo de crescimento econômico sustentável, que não só protege o planeta, mas também alavanca a economia local ao contribuir para o Produto Interno Bruto (PIB) e criar empregos, retendo os existentes e gerando outros. Além disso, a transformação dos produtos agrícolas em indústrias diminui significativamente a emissão de gases de efeito estufa, assegurando um ambiente mais limpo e uma produção de alimentos sustentável.
Para facilitar esses avanços, o bloco regional da Comunidade da África Oriental adotou uma estratégia de bioeconomia visando a industrialização sustentável, melhorias na segurança alimentar e nutricional, avanços em saúde e a criação de produtos bio-baseados derivados de plantas, animais e microrganismos. Conforme explica Venter Mwongera, presidente do Fórum Intersetorial sobre Agrobiodiversidade e Agroecologia no Quênia, a bioeconomia é uma chave para ampliar a economia e criar empregos, enquanto minimiza o impacto ambiental.
Entretanto, apesar das promessas, a implementação em larga escala da bioeconomia enfrenta barreiras significativas, como a falta de financiamento, infraestrutura deficiente, baixa produtividade agrícola e regulamentações governamentais excessivas. Tais desafios devem ser superados para uma adoção mais ampla deste princípio inovador e ambientalmente responsável.
Na linha de frente das inovações, o ICIPE lidera pesquisas sobre insetos como fontes alternativas de proteína e agentes para a conversão de resíduos orgânicos, pavimentando o caminho para soluções positivas a partir da natureza. Contudo, para que a bioeconomia realmente se consolide como uma força transformadora, é necessária uma abordagem concertada que inclua governos, setor privado e comunidades, envolvendo todas as partes interessadas no compromisso com uma economia sustentável e resiliente.