Apesar da abundância de florestas e do crescente interesse na bioeconomia florestal, a região de Castilla-La Mancha, na Espanha, ainda não consolidou um ecossistema empreendedor robusto nesse setor. Essa é a principal conclusão de um estudo qualitativo que analisou a maturidade do ecossistema baseado em nove critérios, incluindo políticas públicas, inovação, capacitação, redes de governança e colaboração público-privada.
O levantamento identificou um cenário marcado pela fragmentação institucional e pela falta de uma visão estratégica regional. Segundo entrevistas com 15 atores-chave do setor — entre eles representantes de governos, universidades, empresas e associações —, iniciativas promissoras, como o laboratório de inovação UFIL Cuenca, atuam como catalisadores locais, mas permanecem isoladas, com pouca conexão a políticas estruturadas.
O índice de maturidade geral do ecossistema foi de apenas 2,17 numa escala de 0 a 5. O critério com pior desempenho foi o de planejamento governamental, com nota 1,5, refletindo a ausência de um plano diretor alinhado a metas de longo prazo. Para os entrevistados, a falta de coordenação prejudica a ativação de potenciais latentes de inovação e reduz a visibilidade da bioeconomia florestal como pauta estratégica na região.
No campo da inovação, o cenário é descrito como “incipiente e fragmentado”. Embora o UFIL Cuenca seja citado positivamente, sua sustentabilidade é vista como frágil, dependendo de financiamentos temporários e sem estruturas permanentes para escalonamento. A ausência de infraestrutura de inovação, como incubadoras e redes de mentoria, limita o surgimento de novos negócios alinhados à economia de base florestal.
A carência de capital humano qualificado é outro gargalo. Segundo os entrevistados, os programas de formação atuais falham ao integrar visão de negócios, competências gerenciais e habilidades técnicas. Existe um descompasso entre a oferta educacional e as necessidades do setor florestal moderno. A baixa atratividade econômica da atividade agroflorestal e a migração de jovens para grandes centros agravam essa lacuna.
As redes de governança — como as mesas setoriais — existem formalmente, mas são criticadas por terem pouca eficácia operacional. O estudo aponta que esses fóruns não conseguem atuar como estruturas de coordenação estratégica. A maioria dos entrevistados defendeu uma reconfiguração dessas instâncias para permitir maior participação, definição de agendas comuns e acompanhamento de resultados.
A colaboração público-privada, embora ainda rara, mostrou potencial transformador em experiências como o UFIL Cuenca. No entanto, os entrevistados destacam que essa colaboração precisa ser mais institucionalizada e menos dependente de ciclos pontuais de financiamento. A criação de estruturas permanentes e a redução da burocracia são vistas como medidas essenciais para avançar na integração entre setores.
Do lado da demanda de mercado, há certo otimismo. Os entrevistados reconhecem oportunidades emergentes em áreas como créditos de carbono, construção em madeira e mercados de serviços ecossistêmicos. Também notaram um interesse crescente em ferramentas de rastreabilidade, como blockchain, para adaptar a produção florestal às exigências de sustentabilidade e reduzir os impactos das mudanças climáticas.
Em termos de “proto-clusters”, o UFIL Cuenca aparece como um embrião promissor, atuando simultaneamente como incubadora de talentos, polo de inovação e ponte entre pesquisa e mercado. Todavia, o estudo alerta que, sem apoio institucional contínuo, o projeto corre o risco de se esgotar. Para os autores, o UFIL poderia evoluir para um hub regional, seguindo modelos como o CESEFOR em Castilla y León ou o XERA na Galícia.
Como recomendação, os autores sugerem a criação urgente de uma estratégia regional integrada, ancorada por uma força-tarefa interdepartamental, e o fortalecimento das estruturas de governança participativa. Também propõem investimentos em treinamentos voltados a jovens e empreendedores rurais, com foco em competências empreendedoras e técnicas.
O caso de Castilla-La Mancha exemplifica os desafios enfrentados por regiões rurais no sul da Europa na consolidação de um modelo de bioeconomia sustentável. Mesmo com recursos naturais abundantes e iniciativas inspiradoras, como o UFIL, a ausência de políticas integradas e estruturas de apoio impede que se forme um verdadeiro ecossistema empreendedor. A superação desse cenário exige ação coordenada, investimentos em infraestrutura de inovação e uma nova cultura de colaboração entre atores públicos e privados.
