Tecnologia avança, mas cadeias de biomassa agroflorestal residual enfrentam entraves estruturais

Uma revisão sistemática publicada no periódico Agroforestry Systems mapeou os principais impulsionadores e obstáculos à valorização da biomassa residual de sistemas agroflorestais. Analisando literatura científica e relatórios técnicos publicados entre 2000 e 2024, a pesquisa destaca tanto os avanços tecnológicos quanto as barreiras estruturais que limitam o aproveitamento desse tipo de biomassa como insumo produtivo.

Segundo os autores, a biomassa residual agroflorestal — composta por sobras de culturas agrícolas e florestais como galhos, folhas e cascas — tem potencial para usos que vão além da geração de energia. Produtos medicinais, materiais de construção e bens de consumo são algumas das aplicações possíveis.

No entanto, o estudo identifica entraves persistentes que dificultam a implementação sustentável dessas cadeias de valor. Entre os principais obstáculos, estão a falta de apoio público e privado, a escassez de formação de operadores e gestores, o investimento limitado em pesquisa e os elevados custos de produção. Esses fatores, segundo o artigo, reduzem a atratividade econômica e comprometem a viabilidade dos negócios sustentáveis com base em resíduos vegetais.

Em contrapartida, os fatores de estímulo incluem o desenvolvimento de tecnologias avançadas como pirólise e gaseificação, associadas à conversão térmica de biomassa em produtos de valor agregado. Também são destacados instrumentos de política pública como subsídios e incentivos fiscais, que podem viabilizar o início ou ampliação de iniciativas nesse campo.

As conclusões da pesquisa indicam que a valorização da biomassa residual não pode depender apenas de soluções tecnocientíficas. Os autores defendem a necessidade de estratégias integradas que combinem viabilidade técnica, incentivos econômicos e instrumentos regulatórios eficazes.

Entre as recomendações para pesquisas futuras, destacam-se três frentes principais: o desenvolvimento de rotas de aproveitamento mais abrangentes, a otimização da coleta e conversão da biomassa e a avaliação detalhada dos impactos econômicos e ambientais dessas aplicações. A gestão de riscos para os diferentes agentes envolvidos também foi apontada como área crítica para garantir modelos de negócio viáveis a longo prazo.

Embora as políticas públicas tenham papel relevante, o estudo observa que muitas dessas iniciativas ainda são pontuais ou pouco articuladas com as realidades produtivas locais. Sem esse alinhamento, as oportunidades demonstradas na literatura científica dificilmente se convertem em projetos estruturados no campo.

Ao sintetizar resultados de diversas partes do mundo, o artigo contribui para refinar o debate sobre o papel das cadeias agroflorestais residuais dentro da bioeconomia. Um dos principais alertas é que, sem superar os gargalos apontados, o setor corre o risco de não realizar seu potencial de contribuição tanto para a sustentabilidade ambiental quanto para a dinamização das economias rurais.

O estudo representa um avanço na compreensão das dinâmicas que moldam a transição de um modelo linear para um sistema circular baseado no reaproveitamento eficiente de biomassa de baixo valor. Os autores reforçam que esse caminho exige esforços conjuntos de pesquisa, políticas públicas e ações coordenadas entre os diferentes setores industriais envolvidos.

Fonte: Drivers and barriers of residual agroforestry biomass valorization: a systematic literature review

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