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Protetora da Amazônia: a política brasileira que reverteu o desmatamento

Marina Silva, ministra do meio ambiente e mudanças climáticas do Brasil, desempenhou um papel fundamental na contenção do desmatamento desenfreado e na reconstrução de instituições enfraquecidas pelo governo anterior.

Em um ano marcado por notícias ambientais ruins, com aquecimento global recorde, ondas de calor e incêndios, Marina Silva trouxe uma mensagem de esperança em 3 de agosto. A ministra do meio ambiente e mudanças climáticas do Brasil anunciou uma queda de 43% nos alertas de desmatamento com base em imagens de satélite da Floresta Amazônica entre janeiro e julho de 2023, em comparação com o mesmo período em 2022. Esta foi uma mudança drástica em relação aos quatro anos anteriores, que haviam visto um aumento significativo desses alertas.

A reviravolta na proteção ambiental no Brasil começou em 1º de janeiro, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência e Marina Silva o cargo atual. É a sua segunda vez à frente do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, que comandou anteriormente entre 2003 e 2008, durante os primeiros e segundos mandatos de Lula da Silva.

Em seu primeiro mandato, Marina Silva enfrentou o desmatamento desenfreado liderando o desenvolvimento do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) — um programa que alcançou uma redução de 83% do desmatamento entre 2004 e 2012 na Amazônia brasileira.

Mas muitas das proteções que ela ajudou a implementar foram desmontadas pelo governo de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil de 2019 a 2022. Durante seu mandato, o governo emitiu 40% menos multas por crimes ambientais, e o desmatamento na Amazônia aumentou cerca de 60% em comparação com os quatro anos anteriores.

Silva e sua equipe começaram este ano, ela diz, “com a difícil missão de reconstruir o que foi desmontado e, ao mesmo tempo, criar novos resultados para a política ambiental”.

Desde cedo, Silva abraçou desafios difíceis. Nascida em 1958 em Rio Branco, no coração da região amazônica, ela veio de uma família pobre de 11 filhos (3 dos quais morreram jovens) e começou a trabalhar cedo junto com seus irmãos, extraindo látex de seringueiras. Queria ser freira e só aprendeu a ler e escrever na adolescência.

Silva conheceu o ativista ambiental Chico Mendes (assassinado em 1988 por um fazendeiro) em um curso de liderança rural em meados da década de 1970 e iniciou sua carreira no ativismo ambiental, que a levou à política. Em 1994, ela se tornou a senadora eleita mais jovem do Brasil, aos 35 anos.

Em seu papel atual, Silva nem sempre está alinhada com o governo atual, diz Pedro Jacobi, pesquisador de governança ambiental da Universidade de São Paulo. O atual governo pretende aumentar a exploração de petróleo e gás — inclusive na foz do Rio Amazonas, diz Jacobi. Portanto, o ministério do meio ambiente está “pisando em gelo fino o tempo todo”, diz ele.

Mas em termos de controle e prevenção do desmatamento, o Brasil está fazendo a sua parte, diz Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, uma organização de política climática sediada no Rio de Janeiro. “A liderança de Marina Silva nesta agenda é muito importante e ela está fazendo um trabalho extraordinário”, diz Unterstell.

Uma conquista importante foi o lançamento, em 5 de junho, de uma versão reformulada do programa PPCDAm para proteção da Amazônia, que o governo anterior havia fechado. Silva também retomou o apoio ao policiamento da região para fazer cumprir as regulamentações ambientais. E logo ficou claro que as políticas estavam funcionando. Entre janeiro e julho, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) emitiu 147% mais multas por crimes ambientais do que a média em meses semelhantes entre 2019 e 2022.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, o desmatamento na Amazônia de agosto de 2022 a julho de 2023 é estimado em 22% abaixo do que foi no ano anterior. A taxa é a mais baixa desde 2018, mas é cerca de duas vezes maior do que a de 2012, quando o desmatamento foi o mais baixo desde que os satélites do INPE começaram a coletar dados.

Fonte: Nature – Amazon protector: the Brazilian politician who turned the tide on deforestation

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