O crescente descarte de resíduos agroindustriais — como cascas, sementes e bagaços — representa um desafio ecológico global e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de reconversão produtiva com valor agregado. Um estudo publicado em maio de 2025 na revista *Haya: The Saudi Journal of Life Sciences* analisou avanços recentes nas tecnologias de extração verde e sua aplicação na transformação desses resíduos em compostos bioativos de interesse para as indústrias alimentícia e nutracêutica.
Segundo o artigo, resíduos como casca de manga, semente de tomate, polpa de uva e bagaço de fruta são fontes abundantes de compostos como polifenóis, flavonoides, carotenoides, fibras e óleos essenciais. Estas substâncias apresentam propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas, sendo úteis tanto na formulação de novos alimentos funcionais quanto na substituição de aditivos sintéticos por conservantes naturais.
Entre as tecnologias não térmicas avaliadas, destacam-se o Campo Elétrico Pulsado (PEF), a Extração Assistida por Ultrassom (UAE), e a Extração com CO₂ Supercrítico (SFE-CO₂). Todas buscam preservar a integridade dos compostos sensíveis ao calor e reduzir a pegada ambiental dos processos. O PEF, por exemplo, aumentou em até 75% o teor de compostos fenólicos extraídos de folhas de Cannabis sativa, sem degradação dos ativos bioquímicos.
O estudo também abordou métodos híbridos como a extração assistida por enzimas combinada com micro-ondas (EA-MAE), que melhorou em até 85% a recuperação de polifenóis da polpa de maçã, e o aquecimento ôhmico acoplado à extração sem solvente, usado com sucesso na extração de hidroxitirosol de resíduos da indústria do azeite. Estas abordagens mostraram-se eficazes em reduzir o uso de solventes, energia e tempo de processo.
Outro destaque é a aplicação de inteligência artificial e aprendizado de máquina para otimizar parâmetros de extração, como tempo, temperatura, tipo de solvente e proporção sólido-líquido. Modelos baseados em redes neurais preditivas alcançaram eficiência até 12% maior na extração de pectina a partir da casca da banana, indicando o potencial da digitalização para acelerar a escalabilidade industrial dessas soluções.
O estudo também examinou diferentes caminhos para a valorização dos compostos extraídos. Isso inclui seu uso direto em alimentos funcionais — como iogurtes enriquecidos com extrato de casca de laranja — e na fabricação de biofilmes com propriedades antimicrobianas e barreiras, feitos com pectina de resíduos de manga. Compostos fermentados a partir de resíduos, como o urolitina produzido a partir da casca de romã, foram destacados como promissores em nutracêuticos de próxima geração.
Apesar dos avanços, persistem desafios. Muitos processos exigem equipamentos de custo elevado e ainda carecem de padronização e regulamentação. A aceitação do consumidor e a variabilidade sazonal dos resíduos também são obstáculos no caminho da adoção em escala.
Como próximo passo, o artigo recomenda o desenvolvimento de solventes ecológicos personalizados, o uso de sensores para monitoramento em tempo real dos parâmetros de extração e a adoção de modelos de biorefinarias integradas. A combinação desses elementos pode fortalecer a bioeconomia circular, promovendo a geração de valor junto à redução de resíduos e impactos ambientais.
Em resumo, a pesquisa reforça que combinações de tecnologias limpas, automação e inteligência artificial criam um novo horizonte para a conversão de resíduos agroindustriais em ingredientes bioativos valiosos. Mas sua transição para escalas industriais dependerá de políticas públicas, investimentos em P&D e regulamentação clara para produtos derivados de resíduos.
