Estudo aponta fragilidades na aceitação social da bioeconomia e propõe mudança metodológica

Embora a bioeconomia seja promovida como um caminho promissor para enfrentar os desafios ambientais e sociais globais, sua consolidação depende da aceitação social. Essa é a principal conclusão de uma análise abrangente da literatura científica, que revisou 105 artigos acadêmicos para mapear como diferentes grupos percebem, compreendem e se engajam com tecnologias, produtos e infraestruturas da bioeconomia.

O estudo revelou uma distribuição geográfica desigual nas pesquisas, concentradas principalmente em países como Estados Unidos, Alemanha e China, e com lacunas significativas em regiões como a Europa Oriental. Além disso, há um desequilíbrio na representação de grupos de interesse: enquanto agricultores, consumidores e o público geral são frequentemente objeto de estudo, gestores públicos, atores da indústria e os próprios pesquisadores permanecem pouco investigados.

A revisão também identificou que a maior parte dos estudos se limita à chamada aceitação passiva, enfocando atitudes, percepções e aberturas ao tema, geralmente com base em conceitos abstratos ou hipóteses. Há pouca ênfase na aceitação ativa, que envolve adoção concreta de práticas e tecnologias bioeconômicas. Essa lacuna metodológica sugere a necessidade de uma virada nos métodos de pesquisa — da abordagem quantitativa baseada em questionários para métodos participativos que deem voz ativa aos diferentes atores.

No caso dos agricultores, foco recorrente nos estudos, a pesquisa aponta que a maioria das investigações os trata como receptores passivos de tecnologias, não como cocriadores ou influenciadores das transformações da bioeconomia. Apenas três trabalhos abordaram o papel direto dos agricultores no fornecimento de biomassa, revelando a centralidade de fatores econômicos, como preço e estabilidade de mercado, na decisão de participar da cadeia bioeconômica.

Sobre infraestrutura tecnológica, como instalações de biogás e biorrefinarias, a aceitação entre comunidades e agricultores tende a crescer quando há benefícios locais claros, como redução de custos ou geração de empregos. No entanto, ainda persistem receios quanto a impactos ambientais, justiça nos processos e falta de confiança nas autoridades responsáveis pela implantação dos projetos.

Quanto aos produtos bioeconômicos, como bioplásticos, biofertilizantes e biocombustíveis, o estudo observa uma aceitação geralmente positiva, mas modulada por fatores como preço, eficácia percebida e acesso à informação. A consciência ambiental e os valores pessoais também influenciam fortemente a disposição de pagar por esses produtos. Em mercados como o irlandês e o finlandês, por exemplo, consumidores demonstram propensão à adoção de produtos locais e sustentáveis, desde que as informações sobre impacto ambiental e origem sejam claras.

Outro ponto crítico identificado é a fragmentação nos conceitos estudados. Termos como aceitação, percepção, atitude, intenção e uso são utilizados de forma intercambiável, dificultando comparações e análises mais robustas. A revisão propõe que futuros trabalhos incorporem conceitos de conhecimento e consciência, que fornecem base cognitiva essencial para mudanças de comportamento.

Em conclusão, os autores defendem uma abordagem mais inclusiva e dinâmica para entender e fomentar a aceitação da bioeconomia. A adoção de metodologias participativas é vista como essencial para integrar diferentes atores à transição bioeconômica, viabilizando políticas públicas mais eficazes e soluções tecnológicas mais alinhadas às expectativas sociais. O avanço da bioeconomia também depende de uma mudança de foco: da ênfase abstrata nas ideias para o estudo concreto da prática cotidiana — onde, afinal, a aceitação se materializa.

Fonte: Exploring social acceptance in the bioeconomy: A scoping review and future research directions

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