Diálogos Setoriais exploram estratégias para transição a uma economia verde no Brasil

O Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e o Insper, em sua série de diálogos setoriais, deram o pontapé inicial para uma discussão crítica sobre a transição para uma economia verde, examinando as nuances de implementação de sistemas produtivos que respeitem o meio ambiente e promovam a inclusão social. Este debate, iniciado em maio de 2024, reúne especialistas, acadêmicos e empreendedores buscando delinear estratégias eficazes para incorporar práticas sustentáveis ao mercado.

O primeiro encontro enfocou os novos instrumentos econômicos, como o Plano de Transformação Ecológica do governo federal, integrado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Carolina Mattar, diretora-executiva do IDS, destacou a importância de garantir que esse plano favoreça a universalização dos direitos sociais e uma distribuição justa dos benefícios econômicos. O plano inclui a regulamentação de mercados de crédito de carbono, títulos soberanos sustentáveis e incentivos para a agricultura familiar e biotecnologia.

Priscila Claro, do Insper, sublinhou que a transformação da economia verde deve atacar as desigualdades, garantindo que ninguém seja deixado para trás. Ao todo, o plano articula seis eixos prioritários, que incluem finanças sustentáveis, bioeconomia, transição energética e nova infraestrutura verde. Cada eixo é pensado para provocar uma mudança estrutural, envolvendo tanto investimentos públicos quanto a atração de capital privado.

O evento também abordou as potencialidades da economia florestal, com participação de Adriano Scarpa, da Indústria Brasileira de Árvores. Ele argumentou que o uso de madeira plantada como matéria-prima pode deter carbono por longos períodos, substituindo materiais mais poluentes na construção civil. Além disso, os resíduos do manejo florestal poderiam ser uma alternativa para a geração de energia limpa.

Por outro lado, um dos desafios mencionados foi o de finanças sustentáveis, destacando a necessidade de criação de instrumentos financeiros viáveis para suportar empreendimentos verdes. Luciane Moessa de Souza, especialista em finanças sustentáveis, reforçou que o mercado financeiro precisa ser bem regulado e incentivado a apostar em negócios que considerem o impacto ambiental e social.

Tulio Notini, da Yunus Social Business, adicionou outro ponto de vista enfatizando a necessidade de fomentar negócios de impacto. Ele explicou que os coletores de recicláveis e outros setores já atuando na economia verde não são devidamente valorizados, apesar de seu impacto positivo nas cidades. Mobilizar capitais para esses setores e expandir suas atividades é crucial dentro do contexto de finanças híbridas.

Por fim, Denise Hills compartilhou sua experiência no setor financeiro, abordando como as externalidades – muitas vezes excluídas dos cálculos financeiros tradicionais – afetam o PIB positivamente pelo aumento dos fluxos de capitais gerados por desastres. Ela acredita que estamos em meio a uma dinâmica transformadora que desafia a linearidade econômica tradicional.

Os Diálogos Setoriais entre o IDS e Insper almejam não apenas delinear um caminho para a economia verde, mas, sobretudo, criar um espaço de discussão robusto que tracione a convergência das esferas acadêmica, corporativa e pública em direção a um futuro mais sustentável e inclusivo. Fica evidente que a transição para uma economia verde é mais complexa do que apenas alterar práticas de mercado; trata-se de um movimento orgânico que precisa ser cuidadosamente estruturado, garantindo, sempre, que os benefícios sejam coletivos e abrangentes.


Fonte: https://oeco.org.br/colunas/dialogos-setoriais-transicao-economica-verde-sustentavel/

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