Desbroce é determinante para o sucesso de plantações com trufa do deserto em solo semiárido

Em um terreno agrícola abandonado no sudeste da Espanha, pesquisadores testaram o uso de Helianthemum almeriense micorrizado com o fungo Terfezia claveryi — conhecido como trufa do deserto — para restaurar ecossistemas semiáridos. Os resultados obtidos nos dois primeiros anos de plantação experimental apontam para o controle da vegetação competidora como fator chave para a sobrevivência e crescimento das plantas nesse tipo de ambiente.

No segundo ano de experimento, a taxa de sobrevivência das plantas foi de 91,1% nos lotes onde houve desbroce — ou seja, eliminação da vegetação concorrente —, enquanto caiu para 73,0% nas parcelas sem intervenção. A comparação entre as diferentes práticas de manejo usou um modelo experimental com 24 subparcelas distribuídas em combinações que testaram também três densidades de plantação e o uso de irrigação de apoio, embora apenas o desbroce tenha gerado efeitos estatisticamente significativos sobre a sobrevivência.

Apesar do irrigação controlada com volume reduzido (25 l/m² aplicado em julho) não afetar diretamente a taxa de sobrevivência, ela influenciou positivamente o tamanho das plantas — que atingiram em média 45 cm nas subparcelas irrigadas versus 41,7 cm naquelas sem irrigação. O mesmo padrão foi observado em relação ao desbroce, com plantas alcançando 45,7 cm contra 41,1 cm nas áreas não intervencionadas.

A densidade de plantação também influenciou o crescimento. As plantas dispostas no espaçamento mais amplo (2×2 m) tiveram diâmetro aéreo médio de 44,7 cm, em contraste com 41,5 cm no espaçamento mais denso (1×1 m). Ainda que as diferenças observadas sejam moderadas, os autores apontam a possibilidade de que o aumento da competição intraespecífica nos marcos mais densos possa vir a limitar o crescimento e a produtividade conforme a plantação evolui.

A escolha de H. almeriense não foi casual. A planta é endêmica do sudeste ibérico e possui adaptabilidade significativa a condições de aridez extrema. Quando micorrizada com T. claveryi, a relação simbiótica melhora a absorção de nutrientes e aumenta a resiliência à escassez hídrica.

Além de melhorar o desempenho vegetal, T. claveryi tem interesse comercial por produzir turmas, uma variedade de trufa bastante valorizada. Assim, as plantações não apenas têm valor ecológico para reabilitação de solos degradados, mas também econômico, oferecendo alternativas produtivas em regiões semiáridas vulneráveis ao impacto das mudanças climáticas.

Os pesquisadores da Escuela Técnica Superior de Ingeniería Agronómica y de Montes y Biotecnología de Albacete, responsáveis pelo experimento, ressaltam a relevância de expandir o estudo para a fase produtiva da plantação. A expectativa é que o aprofundamento da pesquisa permita avaliar os efeitos de métodos de manejo agronômico na produção de turmas e na viabilidade de longo prazo do cultivo em terrenos marginais.

Plantações como a testada podem representar uma estratégia promissora dentro de uma bioeconomia baseada em bio-recursos, com enfoque em valorização de espécies nativas e aproveitamento de simbioses micorrízicas como soluções sustentáveis no manejo de paisagens degradadas.

Fonte: Respuesta de Helianthemum almeriense micorrizado con Terfezia claveryi a prácticas de manejo en ecosistemas semiáridos

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