Peixes e seus subprodutos estão sendo revisitados como fontes estratégicas de compostos bioativos com potencial terapêutico relevante. Uma revisão publicada no periódico International Aquatic Research consolida evidências sobre a composição nutricional e os efeitos benéficos à saúde dos compostos encontrados em peixes, com ênfase no avanço das tecnologias sustentáveis de extração para valorização de resíduos da indústria pesqueira.
Pesquisas mostram que os componentes mais valorizados dos peixes incluem os ácidos graxos ômega-3 EPA e DHA, colágeno, peptídeos bioativos, vitaminas A, D, E e B, além de minerais como cálcio, ferro, zinco e selênio. Esses nutrientes possuem efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, antimicrobianos e cardioprotetores, e são fundamentais para o desenvolvimento de alimentos funcionais e nutracêuticos.
Embora peixes sejam amplamente reconhecidos por seu valor nutricional, ainda há lacunas nas pesquisas sobre seus subprodutos. A revisão destaca que quase metade da biomassa gerada na indústria de processamento—como cabeças, peles e vísceras—é descartada, apesar de conter altos teores desses compostos. Isso representa não apenas uma perda econômica, mas também um problema ambiental.
Estudos recentes exploram métodos de extração verde, como a ultrasound-assisted extraction (UAE) e a supercritical fluid extraction (SFE), que permitem obter compostos bioativos de forma mais eficiente e com menor impacto ambiental. O uso da SFE com dióxido de carbono supercrítico, por exemplo, mostrou-se eficaz na extração de óleo ômega-3 de alta pureza, colágeno e até astaxantina de resíduos de camarão e sardinha, preservando as propriedades nutricionais dos compostos.
Diferentes partes do peixe estão sendo utilizadas com finalidade comercial. O fígado fornece óleo rico em ômega-3, a pele é fonte para produção de colágeno e a cartilagem serve para obtenção de sulfato de condroitina. A diversificação na aplicação industrial inclui os setores de fármacos, cosméticos, alimentos, agricultura e energia. Produtos como Biofertilizantes, biodiesel e biogás surgem como alternativas na cadeia da economia circular.
Ainda assim, os desafios são expressivos. Barreiras logísticas, elevados custos de processamento, perecibilidade dos resíduos e ausência de infraestrutura adequada dificultam o aproveitamento integral dos subprodutos. Além disso, a carência de informação por parte dos consumidores sobre os benefícios dos alimentos funcionais à base de peixe reduz a demanda e a escalabilidade desses produtos.
O estudo aponta que políticas públicas de incentivo, padronização de métodos de extração e campanhas de conscientização podem transformar o cenário. Tecnologias mais acessíveis e eficientes podem tornar a valorização de resíduos não apenas viável economicamente, mas estratégica para a segurança alimentar e para o reaproveitamento inteligente de recursos biológicos.
Para os pesquisadores, o caminho futuro deve priorizar o desenvolvimento de produtos funcionais com biodisponibilidade aprimorada, a validação clínica dos efeitos terapêuticos e o estímulo à integração de setores interessados em ampliar o uso dos recursos aquáticos. O peixe, além de alimento, pode se consolidar como matéria-prima de alto valor agregado em uma bioeconomia regenerativa.
