Estudo revela que financiamento verde só estimula indústria do BRICS quando aliado ao desenvolvimento financeiro

Um estudo comparativo sobre as economias do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) revelou que, embora financiamentos verdes e desenvolvimento financeiro isoladamente tenham impacto negativo no crescimento industrial, sua interação produz efeitos significativamente positivos. A análise de dados de 2000 a 2023 mostrou que as políticas de financiamento sustentável precisam estar integradas a sistemas financeiros sólidos para gerar benefícios reais para a indústria.

O trabalho examinou a relação entre crescimento industrial (valor agregado da indústria ao PIB), desenvolvimento financeiro (medido por indicadores de profundidade, acesso e eficiência) e finanças sustentáveis (uso de títulos verdes em proporção ao PIB). Foram empregadas técnicas econométricas robustas, como FMOLS, DOLS e PCSE, além de testes de causalidade em painel. A principal conclusão é que os instrumentos financeiros verdes só contribuem de maneira consistente para o desenvolvimento industrial quando operam em sinergia com políticas de desenvolvimento financeiro tradicionais.

Ao contrário das expectativas sugeridas por parte da literatura anterior, as estimativas de longo prazo indicam que o financiamento verde, isoladamente, afeta negativamente o setor industrial. O mesmo se aplica ao desenvolvimento financeiro tradicional. A explicação está na ausência de mecanismos institucionais e regulatórios sólidos que conectem com eficácia iniciativas sustentáveis à expansão industrial. Ou seja, lançar títulos verdes ou expandir o crédito privado sem coordenação com políticas industriais pode não gerar os efeitos desejados, ou até mesmo produzir distorções.

No entanto, quando combinados, o financiamento verde e o desenvolvimento financeiro têm impacto positivo e significativo sobre o crescimento da indústria, reforçando a necessidade de integração dessas agendas. Esta combinação estimula a produtividade, melhora a eficiência dos processos industriais e amplia o emprego no setor. O estudo destaca que a criação de empregos industriais está diretamente ligada ao êxito do modelo combinado, uma vez que a força de trabalho tende a se adaptar mais eficientemente à transição verde quando há suporte financeiro e político adequado.

Os dados revelam que entre 2019 e 2023, o peso do setor industrial no PIB caiu em todos os países do BRICS. No Brasil, por exemplo, foi de apenas 20,7%. A estagnação industrial é atribuída, entre outros fatores, à priorização de políticas de serviços e uma insuficiente coordenação entre financiamento sustentável e políticas de desenvolvimento financeiro. A pesquisa sugere que apenas com iniciativas integradas será possível realizar a tão desejada modernização ecológica da indústria na região.

Outro aspecto crítico revelado pela análise é a causalidade unidirecional: o crescimento industrial estimula o financiamento verde, mas não o contrário. Já a relação entre emprego industrial e financiamento verde é bidirecional, sugerindo que a expansão dos empregos verdes pode impulsionar o crescimento do setor, ao mesmo tempo que este promove investimentos sustentáveis.

Esses resultados desafiam a narrativa predominante de que basta impulsionar o financiamento verde para alcançar desenvolvimento industrial sustentável. A realidade dos BRICS demonstrada nesta pesquisa é mais complexa: sem um sistema financeiro desenvolvido e adaptado, o financiamento verde tem seus limites. Modelos regulatórios e inovações institucionais são determinantes para que o verde financie efetivamente a indústria.

O estudo recomenda que os países do BRICS desenvolvam políticas públicas que integrem financiamento verde aos objetivos industriais. Para isso, é necessário priorizar inovações regulatórias, fortalecimento institucional e coordenação entre os setores financeiro e industrial. O sucesso da indústria verde dependerá diretamente dessa articulação estratégica.

Além disso, os autores observam que o modelo do BRICS pode ser replicável em outras economias emergentes, desde que se considere a maturidade dos sistemas financeiros nacionais. O Brasil, com a expansão de soluções como o open banking e o crédito digital, pode avançar nesse campo, desde que consiga integrar as práticas sustentáveis às estruturas nacionais de financiamento e aos seus desafios industriais específicos.

Esta pesquisa oferece uma contribuição importante ao identificar que o impacto positivo do financiamento verde sobre o crescimento industrial nos BRICS depende da existência de políticas financeiras integradas. Trata-se de um alerta estratégico para formuladores de políticas e gestores do setor produtivo diante das exigências da economia de baixo carbono.

Fonte: Green finance, financial development, and industrial growth: insights from the BRICS economies

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