Panamá está em fase de consolidação de sua estratégia nacional de bioeconomia, com previsão de implementação até 2026, sob a liderança da Secretaria Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SENACYT). Essa construção ocorre em um contexto marcado por iniciativas desconectadas, falta de coordenação entre instituições e lacunas significativas em relação à inclusão de grupos marginalizados.
Apesar de dispor de riqueza biológica e sistemas de conhecimento indígena que oferecem base sólida para o desenvolvimento sustentável, o país apresenta um dos menores desempenhos do continente em termos de produção bioeconômica, com apenas 12% da produção nacional e cerca de 4% das exportações ligadas ao setor.
Entre os desafios, destaca-se a escassa participação de mulheres, povos indígenas e pessoas com deficiência nas cadeias de valor da bioeconomia. Dados mostram que mulheres rurais enfrentam uma taxa de pobreza multidimensional de 64,2% — quase o triplo da enfrentada por mulheres urbanas. Já as mulheres indígenas recebem 70% menos que homens não indígenas. No campo, pessoas com deficiência chegam a enfrentar pobreza na casa dos 46,8%.
A falta de formação técnica, acesso a financiamento e barreiras digitais são obstáculos estruturais à inserção dessas populações. A proposta do novo plano estratégico é incorporar esses aspectos desde sua concepção, aproveitando os mecanismos internos de equidade de gênero e inclusão social já existentes na SENACYT, inclusive o selo de igualdade de gênero do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Experiências de países latino-americanos servem como referência para o Panamá. O Brasil, por exemplo, detém uma estratégia que enfatiza os direitos territoriais e culturais das populações tradicionais. Já a Colômbia reconhece as desigualdades estruturais no acesso à terra, conhecimento e benefícios econômicos como barreiras centrais à bioeconomia inclusiva. A Costa Rica adotou uma abordagem territorial para garantir que juventude, mulheres e indígenas sejam protagonistas do desenvolvimento sustentável.
Modelos regionais também oferecem caminhos práticos. No Uruguai, sistemas agroecológicos liderados por mulheres estão sendo apoiados por organizações internacionais como o Banco Mundial e a FAO. No Equador, comunidades Kichwa estruturaram a produção agroflorestal de forma integrada à biodiversidade, com certificações comerciais e fundos sociais que fortaleceram a comercialização e a cooperação internacional.
No entanto, o estudo identificou importantes lacunas de conhecimento no contexto panamenho. Não há dados sistematizados sobre a participação de grupos marginalizados nos projetos bioeconômicos em curso. Tampouco existem instrumentos para monitorar e avaliar, com foco em inclusão social, os resultados dessas iniciativas. Isso limita tanto a formulação quanto o acompanhamento de políticas que pretendam ser transformadoras.
Os autores recomendam a identificação de projetos-piloto inclusivos escaláveis, com entradas claras para mulheres e grupos tradicionais, especialmente nos setores de agrofloresta, pesca e energia sustentável. Também sugerem a promoção de intercâmbio técnico com países da região e o fomento de mecanismos de financiamento e capacitação, com ênfase em empreendedores da bioeconomia que representam grupos atualmente sub-representados.
Com uma estratégia nacional iminente, o Panamá tem a oportunidade de aplicar um modelo de bioeconomia que vá além da produção e eficiência, colocando no centro a justiça social, a equidade e a valorização dos seus próprios recursos humanos e naturais. Os próximos dois anos serão decisivos para que o país traduza seu potencial em progresso tangível e distribuído de forma justa.
Fonte: Bioeconomy in Panama
