UE propõe nova abordagem para destravar o potencial da bioeconomia europeia

Reduzir a fragmentação das políticas e criar um ambiente de financiamento mais eficiente são tarefas prioritárias para a nova estratégia de bioeconomia da União Europeia (UE). Essa é a principal conclusão do relatório final do projeto ShapingBio, que compilou recomendações para o fortalecimento do ecossistema de inovação da bioeconomia no bloco, após mais de três anos de interações com cerca de 2.000 especialistas e tomadores de decisão.

O estudo destaca que a competitividade da bioeconomia europeia está diretamente vinculada à capacidade de superar desigualdades entre os Estados-membros em termos de inovação, infraestrutura e políticas. Apenas 11 países da UE possuem estratégias nacionais específicas de bioeconomia até abril de 2025. Essa lacuna compromete o aproveitamento pleno do potencial do setor, segundo os autores.

Além disso, o documento enfatiza a urgência de conectar os estágios da inovação – do laboratório à aplicação comercial – por meio de instrumentos financeiros adequados a cada fase. O acesso ao financiamento permanece um dos principais obstáculos para pequenas e médias empresas, que enfrentam burocracias, falta de transparência e aversão ao risco por parte dos investidores, especialmente quando se trata de tecnologias bio-baseadas ainda emergentes.

A recomendação é que a UE e os países membros ofereçam fundos contínuos e harmônicos ao longo da cadeia de desenvolvimento tecnológico, com condições bem ajustadas às necessidades de cada estágio do ciclo de inovação. Associar mecanismos de financiamento público a marcos mensuráveis de desenvolvimento pode ajudar a destravar investimentos privados e acelerar a industrialização de soluções sustentáveis.

O relatório também defende ampliar o uso de parcerias público-privadas e iniciativas transnacionais de grande porte, como os Important Projects of Common European Interest (IPCEI), para viabilizar a fase de comercialização em setores bioeconômicos estratégicos. Países com menor capacidade de inovação mas com alto potencial de biomassa devem ser prioridade para apoio nesse campo.

Outro ponto crítico identificado pelos pesquisadores é o desenvolvimento de infraestruturas de demonstração e escala-piloto, os chamados Pilot and Demonstration Infrastructures (PDIs). Atualmente, mais de 120 PDIs operam na Europa, mas o relatório aponta para a necessidade de atualização tecnológica constante, uso transfronteiriço mais intensivo e investimentos focados em demandas reais do mercado.

No aspecto regulatório, as barreiras para a entrada de produtos bio-baseados no mercado europeu são significativas e desiguais entre os países. O projeto recomenda que a UE antecipe e resolva entraves administrativos desde as fases iniciais de desenvolvimento, articulando ações como harmonização regulatória, programas de capacitação e criação de guias específicos para inovação bioeconômica.

Para fomentar a demanda por produtos bio-baseados, o relatório sugere políticas combinadas de incentivo e desincentivo – como subsídios, isenções e penalidades para produtos fósseis – com critérios claros de priorização baseados em impactos ambientais. Uma estratégia de mercado bem definida e coordenada pode não apenas impulsionar a economia circular, mas também reorientar o consumo e a produção para padrões mais sustentáveis.

A interação entre academia e indústria é outro eixo destacado. O relatório propõe estabelecer mecanismos mais sólidos para a formação de redes colaborativas, inclusive reconhecendo trajetórias profissionais que envolvam patentes e publicações fora do meio acadêmico como parte da avaliação de desempenho em instituições de pesquisa. É fundamental fortalecer a interface entre diferentes disciplinas e setores econômicos dentro do ecossistema da bioeconomia.

Por fim, a construção de uma narrativa unificada e mais conhecida sobre bioeconomia é considerada crucial. O relatório orienta a Comissão Europeia a promover o conceito de maneira mais ampla e envolvente, inclusive por meio da criação de fóruns permanentes de diálogo multissetorial, com ênfase em envolver setores pouco representados, como produtores rurais e jovens.

Essas recomendações, segundo os autores, devem servir de base para a próxima Nova Estratégia Europeia de Bioeconomia e visam ampliar a competitividade global da UE, garantindo que a transição para uma economia sustentável seja também inclusiva, coesa e centrada no conhecimento.

Fonte: ShapingBio: Policy Brief – Recommendations for the New EU Bioeconomy Strategy

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