Estudo destaca flores como nova fronteira para bioeconomia circular e geração de nanomateriais

As flores, geralmente associadas a fragrâncias e usos ornamentais, estão ganhando novo protagonismo em estratégias de bioeconomia circular e desenvolvimento sustentável. Um novo estudo de revisão publicado na revista Bioresources and Bioprocessing reúne avanços científicos sobre o aproveitamento integral das flores, tanto comestíveis quanto não comestíveis, como biomassa verde para gerar produtos de alto valor agregado.

Os pesquisadores organizam o conhecimento atual em cinco eixos principais: produção de nanomateriais naturais, enriquecimento de alimentos funcionais, biorremediação, geração de óleos essenciais e uso em materiais biodegradáveis. A abordagem promove sinergias com vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo segurança alimentar (ODS 2), saúde (ODS 3), água limpa e saneamento (ODS 6), inovação industrial (ODS 9) e trabalho decente (ODS 8).

Entre as aplicações de destaque estão os pontos quânticos de carbono (carbon dots ou CDs) obtidos por vias hidrotermais a partir de flores como Peltophorum pterocarpum e Plumeria alba. Esses nanomateriais, com tamanhos inferiores a 10 nanômetros, se mostraram eficazes como sensores de pesticidas, metais pesados e pH em soluções aquosas, com limites de detecção na ordem de nanomoles.

Outro campo em expansão é a síntese verde de nanopartículas metálicas (MNPs), como as de prata, cobre e ouro, resultantes da interação entre extratos florais e sais metálicos. Esses materiais demonstraram propriedades antibacterianas, anticâncer e potencial de uso como catalisadores em processos fotoquímicos. Ensaios in vitro e in vivo com células tumorais e microrganismos patógenos apoiam sua eficácia, embora ainda sejam necessários estudos adicionais de segurança.

No setor alimentício, o uso de flores comestíveis como calêndula, rosa, camomila e jasmins em farinhas, extratos e óleos tem viabilizado a elaboração de alimentos enriquecidos com compostos bioativos. Pães, biscoitos, iogurtes, carnes processadas e bebidas já incorporam essas matérias-primas, agregando valor funcional, antioxidante e sensorial. Em alguns casos, a adição de flores resultou em reduções no índice glicêmico e melhorias na estabilidade oxidativa dos produtos.

A publicação também detalha a produção de biochar e bioadsorventes a partir de resíduos florais. Esses materiais demonstram boas propriedades para tratamento de águas contaminadas com metais pesados, corantes e outros poluentes, com capacidade de adsorção acima de 50 mg/g e possibilidade de reuso após ciclos de desorção. Em um estudo, o biochar de bougainvillea tratado com ácido fosfórico melhorou o desempenho de supercapacitores de zinco.

Além disso, os óleos essenciais extraídos de flores como hibisco, crisântemo e cananga reforçam seu potencial farmacológico e de conservação alimentar. Quando empregados em filmes e embalagens comestíveis, contribuem para a criação de soluções biodegradáveis inteligentes, capazes de indicar o frescor de alimentos por alterações visuais frente à deterioração.

O estudo destaca ainda a necessidade de estudos complementares sobre segurança alimentar, dado que alguns constituintes florais podem conter anti-nutrientes ou toxinas em determinadas concentrações. A padronização de métodos de extração, controle de qualidade e regulamentação sanitária são mencionadas como pré-condições para a escalabilidade industrial dessas rotas tecnológicas.

Como conclusão, os autores defendem que a valorização de flores como matéria-prima biomassa fortalece a bioeconomia circular e tem potencial de converter resíduos florais, hoje descartados em larga escala, em insumos estratégicos para os setores de alimentos, saúde, tratamento ambiental e materiais. O desafio, agora, é transpor as barreiras técnicas e regulatórias para consolidar essas aplicações em cadeia produtiva.

Fonte: Valorization of flowers and their role in circular bioeconomy and sustainable development goals

Compartilhar