Casca de ervilha ganha potencial industrial com usos em filmes biodegradáveis, biochar e alimentos funcionais

A casca da ervilha, um subproduto frequentemente descartado durante o processamento agrícola, está sendo reposicionada como um recurso estratégico na economia circular. Segundo estudo publicado na revista Bioengineered, esse resíduo possui elevado teor de celulose, lignina e compostos bioativos como polifenóis, o que amplia seu potencial de uso em diversas aplicações, desde o setor alimentício até o ambiental.

O artigo destaca que a biomassa lignocelulósica presente nas cascas de ervilha permite sua conversão em filmes biodegradáveis com propriedades mecânicas e de barreira desejáveis. Esses bioplásticos são considerados alternativas promissoras ao plástico convencional, alinhando-se aos esforços industriais por embalagens mais sustentáveis. Em testes laboratoriais, foram observadas características adequadas para revestimentos alimentares e outros tipos de embalagens biodegradáveis de uso único.

Outro uso relevante identificado pelos pesquisadores é a obtenção de biocarvão (biochar) por meio de pirólise. Este material, rico em carbono, demonstrou elevada eficiência na adsorção de contaminantes da água, incluindo corantes industriais e metais pesados como o cromo e o níquel. Seu custo relativamente baixo e viabilidade técnica o tornam um candidato competitivo para remediação ambiental, especialmente em países com infraestrutura limitada para tratamento de efluentes.

No setor de alimentos funcionais, as cascas apresentaram potencial como fonte de fibras dietéticas pré-bióticas. Modificações enzimáticas dessas fibras resultaram em maior produção de biomassa microbiana durante experimentos com Lactobacillus rhamnosus, indicando sua aptidão para promover a saúde intestinal. As aplicações potenciais incluem seu uso em formulações de sorvetes, enriquecimento de alimentos e desenvolvimento de suplementos.

A composição química da casca também mostrou riqueza em minerais como ferro, cálcio, magnésio e zinco. Esses micronutrientes aumentam o valor nutricional dos produtos derivados, como nutracêuticos e ingredientes para a indústria de cosméticos. Além disso, os flavonoides presentes, como kaempferol, quercetina e miricetina, sugerem propriedades farmacológicas importantes, com destaque para atividades antioxidantes, anti-inflamatórias e até anticancerígenas observadas em testes laboratoriais.

Combinando estratégias de extração de compostos bioativos com novos usos industriais, o reaproveitamento da casca de ervilha mostra-se como uma oportunidade clara de valorizar resíduos agroindustriais. A produção mundial de ervilha verde e seca alcança cerca de 36 milhões de toneladas por ano, sendo que estimativas apontam que até 30% desse volume corresponde a resíduos de casca — o que representa uma matéria-prima de larga escala.

Há também perspectivas para o seu uso como biossorvente na purificação de águas industriais. Estudos indicaram que a casca de ervilha modificada quimicamente por grupos amino apresenta taxa de remoção de corantes de até 99% em testes com corantes como o Acid Orange 7. Com isso, o insumo desponta como uma alternativa promissora ao carvão ativado industrial.

Apesar dos avanços mapeados, os autores do estudo insistem que melhorias nas técnicas de processamento, escalonamento industrial e análises econômicas ainda são necessárias. Existem também lacunas em pesquisas sobre sua aplicação em ingredientes bioativos microbianos e formulações farmacêuticas, áreas que podem ampliar ainda mais o impacto da sua valorização.

Fonte: Valorization of agro-waste of pea: challenges, current developments, and circular bioeconomy

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