Uma análise econômica completa da produção de bioetanol de segunda geração a partir do bagaço de cana-de-açúcar foi realizada na Indonésia, evidenciando a viabilidade financeira do reaproveitamento desse resíduo agrícola. Apesar de amplamente descartado por meio de queima a céu aberto, o bagaço tem potencial de gerar até 30,9 milhões de litros de bioetanol por ano com base em dados de uma usina em Lumajang, Java Oriental.
O estudo calculou um custo de ciclo de vida (LCC) de US$ 177,18 milhões para um projeto de 20 anos. O custo nivelado do bioetanol (LCOB) foi estimado em US$ 0,541 por litro, inferior ao preço de venda recomendado pelo governo indonésio (US$ 0,766/L). Isso indica um espaço considerável para margens de lucro, especialmente para pequenas e médias empresas (PMEs) interessadas em investir na produção da bioenergia.
A análise de viabilidade também apontou um valor presente líquido (VPL) de aproximadamente US$ 31,7 milhões e uma taxa interna de retorno (TIR) de 11,72%, com um retorno do investimento previsto em pouco mais de cinco anos. A pesquisa também aplicou uma análise de sensibilidade que revelou que uma redução no preço de venda para menos de US$ 0,57/L tornaria o projeto inviável economicamente — destacando a importância de uma precificação estratégica.
Do ponto de vista dos custos, operações e logística representaram a maior fatia do investimento total (65,2%), seguidas pelo custo da matéria-prima (17,3%) e custo de capital (15%). Por outro lado, o estudo destacou o impacto residual positivo da venda de ativos ao fim do projeto, que aliviaria a pressão sobre o LCC em cerca de US$ 1,35 milhão.
A produção de SCB bioetanol não apenas se mostrou financeiramente viável, mas também competitiva frente ao preço do combustível subsidiado da Indonésia (gasolina RON90 a US$ 0,66/L). Nessa faixa de preço, o produto ainda geraria uma TIR de 7,5%, indicando que a substituição parcial da gasolina por bioetanol pode ser estrategicamente vantajosa sem exigir aumento de preço ao consumidor.
O estudo ganhou relevância adicional ao alinhar seus resultados com o plano governamental de ampliação do uso de biocombustíveis. A meta indonésia prevê a adoção nacional do E5 (gasolina com 5% de bioetanol) até 2025, intensificando o uso da biomassa como fonte energética renovável. Contudo, o texto alerta que desafios logísticos nas regiões orientais podem exigir estímulos adicionais, como parcerias público-privadas e incentivos pautados no carbon pricing.
Possíveis desdobramentos incluem a integração do SCB bioetanol a políticas de precificação de carbono e à cadeia de valor de bioprodutos, considerando que os subprodutos do processo, como CO e resíduos lignocelulósicos, também possuem aplicações comerciais em setores como cosméticos e biomateriais.
Apesar da robustez do estudo, os autores recomendam cautela ao generalizar os resultados. Diferenças regionais em preços de matéria-prima, custos de mão de obra e acesso a tecnologias avançadas podem afetar a viabilidade do modelo em outras localidades. Estudos futuros são sugeridos para melhorar a eficiência de conversão, especialmente com a adoção de tecnologias fermentativas avançadas.
Com base nos dados levantados, o artigo fornece um modelo de referência útil para empresas locais, formuladores de políticas e investidores interessados na expansão da bioeconomia indonésia por meio de projetos sustentáveis centrados em resíduos agrícolas.
Fonte: Life cycle cost of bioethanol bioeconomy of sugarcane bagasse in Indonesia
