Com o agravamento dos incêndios florestais, estimulados pelas mudanças climáticas e resultando em destruições de larga escala, a indústria de seguros nos Estados Unidos está intensificando as pesquisas para compreender e mitigar os riscos associados. Em um laboratório na Carolina do Sul, uma equipe de engenheiros dedica-se a incendiar estruturas para estudar a propagação destes eventos em áreas urbanas. A Insurance Institute for Business and Home Safety, uma organização sem fins lucrativos financiada pelo setor de seguros, lidera esses estudos com o objetivo declarado de interromper o crescente impacto dos incêndios em comunidades, conforme afirmou Anne Cope, líder da equipe.
Os desafios são amplificados pela natureza complexa dos incêndios, que, diferentemente de outros desastres naturais, são frequentemente instigados e controlados por humanos. Ocorre que a ciência e os dados em torno do impacto dos incêndios florestais em comunidades urbanas são menos desenvolvidos, pressionando assim a indústria a investir mais em modelagem de catástrofes e pesquisa em ciência da construção. Este investimento visa a estabilização dos mercados de seguros, já abalados por inflação, um ambiente regulatório mutável, altos custos de resseguros e os desastres intensificados pelo clima.
Karen Collins, vice-presidente de propriedade e ambiente da American Property and Casualty Insurance Association (APCIA), sublinhou a urgência e a envergadura dos esforços tanto no nível estadual quanto federal para enfrentar essa realidade. Em resposta aos eventos críticos recentes, como o Incêndio Marshall de 2021, em Colorado, que resultou em mais de $2 bilhões em perdas seguradas, a indústria de seguros começou a considerar os incêndios florestais como um ‘perigo de catástrofe’ pela primeira vez.
Os modelos de risco de catástrofes têm adquirido um papel fundamental em prover uma compreensão mais precisa sobre como um incêndio pode afetar bairros específicos e resultar em perdas financeiras. Esta abordagem difere do tradicional uso de dados históricos para previsão de riscos futuros. Companhias como a Moody’s RMS estão engajadas em simulações que embasam essas importantes decisões de subscrição e precificação.
Na Califórnia, regulamentações previamente proibiam o uso desses modelos de catástrofes por preocupações de transparência. Contudo, está programada uma reversão dessa norma para fortalecer a confiança das seguradoras na precificação do risco de incêndios florestais. Michael Conway, Comissário de Seguros do Colorado, alerta para a falta de transparência nestes modelos, indicando uma possível necessidade de ação legislativa para esclarecimento.
A investigação também se estende à compreensão de como os incêndios se alastram de áreas selvagens para urbanas e a prevenção de mega-incêndios. O IBHS está na vanguarda desta pesquisa, explorando, por exemplo, a resistência de diferentes tipos de ventilação na prevenção de incêndios internos em domicílios. Os resultados contribuíram para a criação de um padrão em 2022 que orienta os proprietários na mitigação dos riscos, com potencial de melhorar a segurabilidade das propriedades.
O papel humano na eclosão e na supressão de incêndios transforma a modelagem destes eventos em uma tarefa complexa, que vai além da ciência dos incêndios e abrange o comportamento humano e práticas de mitigação. O setor reconhece que a redução significativa dos riscos não depende apenas da ação de um proprietário isoladamente, mas do esforço coletivo da comunidade. Diante disto, descontos em prêmios de seguros para proprietários que reduzem os riscos podem ser uma medida incentivadora, como os já propostos na Califórnia, ainda pendentes de aprovação.
Fonte: https://www.eenews.net/articles/insurers-race-to-study-wildfires-as-losses-mount/