Pesquisadores propuseram uma alternativa sustentável e tecnicamente viável para a produção de biodiesel a partir da combinação entre algas marinhas e resíduos agroindustriais. O estudo investigou o uso da macroalga Ulva lactuca como matéria-prima e carvão ativado derivado de casca de dendê como catalisador no processo de transesterificação. A extração dos lipídios foi conduzida com gás carbônico em estado supercrítico, técnica que dispensa solventes tóxicos e preserva os compostos bioativos do óleo.
Entre os principais resultados, destaca-se o rendimento de biodiesel de 86,56 %, valor superior ao observado em métodos convencionais com essa espécie de alga. A qualidade do produto final também chamou atenção: com um número de cetano de 57,7 e um poder calorífico de 38,4 MJ/kg, o biodiesel atendeu plenamente os padrões internacionais ASTM D6751 e EN 14214.
A escolha por Ulva lactuca não foi casual. Essa alga, comum em ambientes costeiros, tem crescimento rápido, pode ser cultivada em larga escala sem necessidade de terra agricultável ou água doce, e apresenta teores lipídicos compatíveis com o aproveitamento energético. O óleo extraído mostrou baixo índice de acidez (0,24 % de ácidos graxos livres) e alta concentração de ácido oleico (40,60 %), características desejáveis para a síntese de ésteres metílicos.
O diferencial do trabalho está também no uso do carvão ativado de casca de dendê como suporte catalítico. Esse material biogênico foi obtido por pirólise com ácido fosfórico, o que resultou em alta microporosidade e elevada área superficial — características críticas para catalisadores heterogêneos. Sua capacidade de adsorção foi demonstrada pelo número de iodo de 3577,84 mg/g, valor considerado elevado mesmo entre carvões ativados especializados.
A adoção de um catalisador sólido de origem vegetal oferece vantagens operacionais importantes. Diferentemente dos catalisadores homogêneos, que demandam etapas de purificação mais complexas, os sólidos podem ser facilmente separados e reutilizados. Além disso, o aproveitamento de resíduos como a casca de dendê agrega valor a um subproduto agrícola comumente descartado, promovendo a circularidade e reduzindo os custos do processo.
O estudo preenche uma lacuna na literatura, unindo pela primeira vez a extração com CO₂ supercrítico de Ulva lactuca e o uso de catalisador heterogêneo obtido de biomassa residual. Até então, pesquisas que exploravam esses componentes o faziam de modo isolado. Os autores atribuem o sucesso da abordagem à sinergia entre uma matéria-prima marinha de terceira geração e um agente catalítico de baixo custo, ambos abundantes e com impacto ambiental reduzido.
Além de apresentar uma rota promissora para biodiesel de algas, os autores enfatizam o alinhamento da solução com os princípios da bioeconomia circular. O modelo proposto evita a competição com cultivos alimentares, valoriza resíduos agroindustriais e contribui para metas energéticas de baixo carbono. Embora o foco tenha sido a caracterização da matéria-prima, do catalisador e do produto, o estudo abre caminho para investigações futuras voltadas à otimização do processo em escala industrial.
Em termos técnicos, a pesquisa demonstra que processos de extração verdes aliados a catalisadores renováveis podem superar desafios históricos na produção de biodiesel, como o custo elevado dos reagentes e a instabilidade dos óleos crus. O trabalho propõe uma alternativa concreta ao uso de óleo comestível como insumo energético e reforça o potencial das macroalgas marinhas como fontes viáveis e sustentáveis de energia renovável.
