Uma pesquisa publicada no Nature Communications em 07 de novembro de 2023, apresenta um modelo idealizado que fornece uma nova compreensão sobre como a vegetação costeira afeta a complexidade e formação das redes de canais em zonas úmidas costeiras. A pesquisa liderada por Roeland C. van de Vijsel e um time internacional de especialistas introduziu um conjunto de processos que delineiam como a vegetação favorece o desenvolvimento de redes de canais mais ramificadas, aumentando a razão entre incisão de canal e taxas de difusão topográfica. Este avanço, respaldado por dados de campo e estudos anteriores, oferece insights valiosos para futuras pesquisas de campo, especialmente na hipótese de que a auto-organização induzida pela vegetação pode melhorar a capacidade de amortecimento de tempestades e a resiliência das zonas úmidas costeiras contra a elevação do nível do mar.
As redes de canais são vitais para o funcionamento e a resiliência das zonas úmidas costeiras. A vegetação interage de várias maneiras com a sedimentação e a hidrodinâmica, influenciando a geometria e o funcionamento da rede de canais. Utilizando um modelo que simula a dinâmica espacial da densidade de vegetação, o campo de fluxo de água médio em profundidade e a elevação do leito sedimentar, os pesquisadores demonstraram como a vegetação conduz à formação de canais bifurcando-se em várias escalas espaciais nas zonas úmidas costeiras.
O estudo argumenta que a vegetação promove a complexificação das redes de canais e sua eficiência de drenagem. Os efeitos individuais da vegetação, como aumento da aspereza do leito, proteção contra erosão e redução da capacidade de difusão do solo agora são enquadrados em uma visão coesa, evidenciando a instigação de um feedback biogeomórfico em escala, onde o crescimento vegetativo atenua o fluxo de água e promove o acúmulo de sedimentos. Estes efeitos são modulados por parâmetros que capturam a rugosidade induzida pela vegetação (n v ), o fator de redução da erodibilidade (p E ), e o fator de redução da difusividade do solo (p D ).
Além disso, a pesquisa sugere que um feedback biogeomórfico mais forte leva a plataformas de pântano mais altas e vegetadas e redes de drenagem mais extensas. Isso indica que a vegetação, ao aumentar a coesão do sedimento e promover a heterogeneidade topográfica, pode desempenhar um papel fundamental na formação da paisagem, possivelmente até contribuindo para a estabilidade dos ecossistemas costeiros em face de mudanças climáticas.
Em termos de aplicação prática, entende-se que a preservação da complexidade natural das zonas úmidas costeiras e o fomento aos feedbacks biogeomórficos em projetos de restauração de zonas úmidas são cruciais para garantir ecossistemas costeiros resilientes. Essas descobertas colocam ênfase na vegetação não apenas como uma característica passiva desses ecossistemas, mas como um agente ativo na moldagem da geoformação costeira.
Os resultados do modelo apresentado no estudo são consistentes com dados de redes de canais em zonas úmidas reais e apontam para uma relação qualitativa entre a força do feedback biogeomórfico e a complexidade da rede de canais. Isso fortalece a hipótese de que a promoção de auto-organização pela vegetação pode ter efeitos positivos sobre a função e resiliência dos ecossistemas costeiros, introduzindo uma hipótese clara para estudos futuros. A pesquisa abre novas avenidas para explorar o potencial das práticas de bioengenharia como parte das estratégias de gestão costeira sustentável e ecológica.