A evolução da indústria da moda em seu relacionamento com a biodiversidade e práticas sustentáveis é um assunto de grande profundidade e relevância, como bem delineia a reportagem de Robson Delgado. Ele aponta o passado sombrio da moda em relação à exploração de animais silvestres, e como a contemporaneidade busca um caminho mais alinhado com os valores ambientais, especialmente influenciado pelas culturas indígenas.
Descreve a origem das práticas predatórias da moda, remontando ao século XVIII, onde peles de animais simbolizavam status e riqueza entre a alta burguesia. Ressalta essa herança na tendência contínua do animal print, entretanto, pontua a mudança de paradigmas em relação ao uso de peles verdadeiras. A exploração, particularmente dramática no caso da ariranha, mostrou sua nocividade com números alarmantes de mortes de animais silvestres, como reflete o estudo mencionado na revista Science Advances. Este retrato do passado serve como contraponto à atual conscientização sobre a preservação dessas espécies.
Um marco decisivo na proteção dos animais silvestres foi a conferência da ONU em 1972, que resultou na criação de regras contra a exploração comercial de espécies como a ariranha. Apesar da proibição, o tráfico de animais silvestres ainda persiste, causando impactos significativos à fauna brasileira e à biodiversidade.
A conexão da moda com práticas mais sustentáveis e respeitosas ao meio ambiente, refletida na crescente demanda por roupas de brechós e marcas com visão ecológica. Este movimento representa uma resposta à indústria têxtil poluente, buscando uma moda que atue como vanguarda e tradutora das críticas ambientais contemporâneas.
Destaque para a posição única dos povos indígenas nesta equação. A caça e o uso de animais na vestimenta indígena são parte integrante da cultura e subsistência, e não um capricho estético, diferenciando-se radicalmente do uso comercial condenável. No entanto, regulamentos necessários para a proteção de animais acabam impactando negativamente as tradições desses povos, como evidenciado pelo caso da liderança indígena Paulo Apurinã. Aqui, surge uma questão ética e prática delicada sobre o balanço entre conservação ambiental e preservação cultural.
Conclui focando na ascensão de marcas de moda indígena, que oferecem um novo modelo de produção e consumo no setor. Exemplos como Sioduhi Studio, Yanciã e Vanda Witoto ilustram iniciativas que integram práticas tradicionais de sustentabilidade e manejo consciente de recursos. Delgado ressalta o uso de tecidos certificados e a valorização da biodiversidade amazônica como elementos centrais dessas marcas, e como um conhecimento ancestral indígena poderia contribuir para uma sociedade mais sustentável e menos consumista.
Esta reportagem, financiada pela Earth Journalism Network e inserida no projeto Intercâmbio de Biomas, não se limita a ser apenas uma narrativa ambiental. Ela provoca reflexões mais profundas sobre o valor da biodiversidade, a importância de regulamentações equilibradas e a representatividade cultural, apontando caminhos onde a moda pode ser inovadora e sustentável sem ignorar os direitos e tradições dos povos originários.
Fonte: https://oeco.org.br/reportagens/um-crime-fora-de-moda-e-o-futuro-inspirado-por-indigenas/