Tasso Azevedo: COP28 e a ‘Virada de Chave’ no compromisso com a meta de 1,5° no combate às mudanças climáticas

Em meio aos desafios globais de sustentabilidade e mudanças climáticas, a COP28 apresenta alguns resultados positivos, embora insuficientes, para impulsionar a transição para uma economia mais verde. Tasso Azevedo, uma voz influente na bioeconomia e coordenador do MapBiomas, oferece uma perspectiva crítica e detalhada sobre esses avanços e as lacunas existentes.

Azevedo destaca a urgência de iniciar a transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis. Ele menciona que, apesar dos compromissos globais para neutralizar emissões até 2050, “a gente continua tendo aumento do consumo e produção de combustíveis fósseis”. Essa tendência contradiz com os esforços necessários para alcançar as metas ambientais estabelecidas. Ele enfatiza que a mudança precisa começar imediatamente: “começar esse processo já agora, até 2050” é crucial para atender aos objetivos de longo prazo em sustentabilidade.

Um dos maiores obstáculos identificados por Azevedo são os subsídios aos combustíveis fósseis. Ele aponta que, em 2022, esses subsídios ultrapassaram a marca de 7 trilhões de dólares, representando uma proporção significativa do PIB global. Azevedo questiona a justificativa desses subsídios, que frequentemente apoiam as formas mais poluentes de energia, como carvão mineral e gás, em vez de promoverem alternativas renováveis e mais sustentáveis. Ele destaca a necessidade de repensar essas políticas para incentivar uma transição energética efetiva e justa.

Em relação à participação do Brasil na OPEP+ como observador, anunciada pelo presidente Lula, Azevedo critica o “timing péssimo” da decisão, considerando o contexto da COP28. Ele ressalta a importância do diálogo internacional, mas enfatiza a necessidade de comunicação clara e objetivos alinhados com a agenda climática global. A participação do Brasil em tais fóruns deve ser estratégica e focada em promover a transição para uma economia de baixo carbono.

O grande marco apontado por Tasso na COP28 é a ênfase renovada na meta de limitar o aquecimento global a 1,5° em relação aos níveis pré-industriais. Ele considera isso não apenas como um detalhe, mas a base dos esforços necessários para combater as mudanças climáticas. Este foco reforça a necessidade de alinhar as ações globais com a ciência e afasta qualquer forma de negacionismo climático. Azevedo destaca que, embora a meta de 1,5° pareça cada vez mais distante de ser alcançada, a sua crescente aceitação e reafirmação como objetivo central nas discussões climáticas é um passo significativo e uma “virada de chave” no contexto da COP28. O alinhamento global para limitar o aquecimento a 1,5° em relação aos níveis pré-industriais é uma meta fundamental, mas ele adverte que as ações atuais estão longe de ser suficientes para alcançá-la. Azevedo aponta a necessidade de intensificar esforços para reduzir emissões e aumentar a absorção de carbono, particularmente na segunda metade do século, para evitar um cenário climático ainda mais grave.

Um aspecto positivo destacado por Azevedo é o fortalecimento do Fundo Amazônia, que recebeu aportes significativos em 2023 de diversos países. Esses investimentos refletem a confiança internacional no compromisso do Brasil com a redução do desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa. Azevedo vê esses aportes como um sinal de credibilidade e um incentivo para o Brasil continuar seus esforços de conservação e sustentabilidade.

Além desses temas, Azevedo discute a importância de estratégias concretas para a transição energética. Ele menciona que os compromissos assumidos pelos países na COP28, incluindo o aumento da implantação de energias renováveis e a melhoria da eficiência energética, são passos na direção certa, mas ainda insuficientes diante da magnitude do desafio climático. Ele enfatiza a necessidade de desacelerar e eventualmente cessar novos projetos de energia fóssil, substituindo-os por alternativas renováveis.

Finalmente, Azevedo analisa as perspectivas para a próxima COP, enfatizando a importância de aumentar a ambição e a ação climática. Ele sugere que a COP de Baku pode ser uma oportunidade para os países demonstrarem um comprometimento mais forte com a redução de emissões e com a transição para uma economia de baixo carbono. Azevedo reforça a ideia de que o tempo para ação é agora, e atrasos ou inércias podem ter consequências severas para o planeta e para as futuras gerações.

Essa análise profunda e o compromisso de Azevedo com soluções sustentáveis e práticas de bioeconomia são essenciais para entender os desafios e oportunidades que o Brasil e o mundo enfrentam na busca por um futuro mais verde e sustentável. A COP28, embora tenha apresentado alguns avanços, destaca a necessidade de ações mais ambiciosas e imediatas para enfrentar a crise climática.

Fonte: Rádio CBN Sustentabilidade com Rosana Jatoba. Qual o resultado da COP 28? em 17/12/2023.
Foto: Pedro França/Agência Senado

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