Superprodução na moda: o segredo sujo e suas consequências ambientais

Um dos maiores problemas contemporâneos da indústria da moda é a produção excessiva que se torna um desastre ambiental devido à quantidade de peças não vendidas, revela um estudo recente. Estima-se que entre 80 bilhões e 150 bilhões de peças de vestuário são fabricadas anualmente, das quais aproximadamente 10% a 40% não são comercializadas, resultando em um excedente alarmante que pode variar entre 8 bilhões e 60 bilhões de itens por ano.

A divulgação de volumes de produção é vista como um passo crucial para abordar o impacto ambiental da indústria e encaminhar mudanças significativas, tanto em práticas produtivas quanto em regulamentações. A campanha Speak Volumes, lançada pela Or Foundation, busca incentivar as marcas a partilharem esses dados. Até agora, apenas empresas de pequeno e médio porte aderiram à inciativa, com destaque para a marca britânica Lucy & Yak que produziu 760.951 peças, enquanto a escocesa Mlambo reportou apenas 100 itens.

O silêncio das grandes marcas a respeito desses números é considerado o ‘segredo sujo da indústria’. No mercado Kantamanto em Accra, Gana, cerca de 40% dos fardos têxteis resultam em desperdício. Essa situação tem levado a pedidos por uma redução de 40% na produção de novas roupas ao longo de cinco anos, baseando-se na transparência dos números de produção.

As razões para a superprodução são multifacetadas, incluindo: pedidos mínimos exigidos pelos fabricantes, ciclos varejistas rápidos estimulados por entregas frequentes de novos produtos, e uma incapacidade das marcas de prever a demanda do mercado. Embora existam novas tecnologias, como a inteligência artificial para prever demanda e modelos sob encomenda, estas técnicas ainda estão longe de serem amplamente implementadas.

O desperdício na moda reflete tanto a desvalorização das peças nos países ricos quanto a opacidade das cadeias de suprimento aos consumidores. Sinais da desvinculação com o esforço humano empregado na produção. A Global Fashion Agenda (GFA) descobriu que 78% das marcas possuem metas para reduzir a superprodução, mas enfrentam desafios pelo entendimento nebuloso sobre o que significa produzir em excesso.

Para combater as elevadas taxas de produção e consumo, legisladores europeus estão propondo esquemas de responsabilidade estendida ao produtor (EPR), que impõem um impacto financeiro aos produtores para gerenciar o fim da vida útil dos produtos, iniciativas que ainda estão em discussão sobre a viabilidade e eficiência.

Finalmente, as emissões da indústria da moda deverão dobrar nos próximos dez anos se a trajetória atual for mantida. O encontro dos objetivos do Acordo de Paris demandará a redução para metade das emissões de gases de efeito estufa até 2030. Modelos alternativos como aluguel, reuso e reparo são frequentemente citados, mas se quer atingir a meta de um aumento máximo de 1.5C na temperatura, será necessário uma redução de 60% no consumo nos países do G20.


Fonte: https://www.theguardian.com/fashion/2024/jan/18/its-the-industrys-dirty-secret-why-fashions-oversupply-problem-is-an-environmental-disaster

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