Próximos dois anos: um divisor de águas na luta contra o desmatamento das florestas tropicais

Em um cenário onde os próximos dois anos são decisivos para o futuro das florestas tropicais, constata-se uma situação alarmante na batalha contra o desmatamento. Apesar das promessas globais e avanços em algumas áreas, dados recentes revelam um aumento de 43% no desmatamento do Cerrado, o coração agrícola do Brasil, em 2022 em comparação ao ano anterior. Este aumento contrapõe a queda no desmatamento da Amazônia e ressalta a contínua ameaça ao ecossistema crítico.

As conclusões do relatório anual Forest Declaration Assessment apontam que houve um incremento geral de 4% na perda de árvores em 2022 frente ao ano de 2021, evidenciando que os esforços atuais podem ser insuficientes. Ativistas consideram as ações prometidas até o momento como ‘muito pouco, tarde demais’, enfocando a necessidade de ações mais imediatas e abrangentes.

Embora haja compromissos assumidos por grandes produtores de soja para acabar com o desmatamento até 2030, especialistas argumentam que essa meta está distante demais, permitindo continuado prejuízo aos biomas brasileiros. A mesma crítica aplica-se ao setor pecuário, que tem sua cadeia de fornecimento frequentemente dissociada das promessas de conservação ambiental, deixando ecossistemas como o Cerrado desprotegidos.

Por outro lado, José Pugas, um investidor responsável, destaca uma perspectiva mais otimista, mencionando avanços significativos de empresas agrícolas em compromissos livres de desmatamento. Pugas ressalta a importância da tecnologia para rastrear a origem das commodities nas cadeias de suprimentos como meio de responsabilização empresarial.

Investidores internacionais e reguladores também têm um papel crucial, com leis emergentes em mercados-chave que proíbem importações ligadas ao desmatamento e com a crescente pressão por divulgamentos financeiros relacionados à natureza. Investimentos que promovem a biodiversidade ainda são ofuscados pelos subsídios prejudiciais ao meio ambiente, mas ferramentas inovadoras como o Forest IQ prometem auxiliar empresas e investidores a navegar pelo emaranhado de dados sobre desmatamento.

Cientes da complexidade do desafio, ações estão sendo delineadas para apoiar empresas em transições para práticas sustentáveis, com iniciativas que visam evitar problemas de comunicação e ‘greenwashing’. A abordagem é criar um framework que estabeleça expectativas claras e indicadores para verificar o progresso das empresas.

À medida que o Brasil se aproxima da COP30, na cidade de Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta o desafio de avançar com sua agenda pró-ambiental em um Congresso ainda dividido. Os atores do mercado e os formuladores de políticas devem agir rapidamente, reconhecendo a importância estratégica desses anos como um ponto de inflexão para demonstrar a capacidade do Brasil em liderar o combate ao desmatamento e fomentar uma economia alinhada às necessidades da natureza.

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