Diante do cenário imposto pela emergência climática e o Antropoceno, a resiliência dos agroecossistemas perante eventos climáticos extremos emerge como um dos grandes desafios da atualidade. Uma estratégia chave para esta adaptação é a diversificação biológica, em particular por meio de policultivos que incluem espécies medicinais. Estas espécies não só conferem resiliência ao sistema, mas também podem representar uma relevante fonte de renda para a agricultura familiar e iniciativas de recuperação ecológica.
Uma revisão bibliográfica minuciosa revela um total de 109 espécies medicinais nativas do Brasil, distribuídas em 48 famílias botânicas. Destas, as famílias Fabaceae, Myrtaceae e Asteraceae destacam-se pela representatividade, indicando uma rica fonte para a bioeconomia. Todavia, salienta-se a carência de estudos que contemplem dados concretos sobre produção, produtividade e comercialização dessas espécies, cruciais para o pleno aproveitamento na engenharia de agroecossistemas resilientes.
Este quadro evidencia a existência de um vasto universo de conhecimento a ser explorado e a necessidade de fomentar pesquisa aplicada que conduza ao desenvolvimento prático e estruturado das cadeias produtivas de plantas medicinais nativas. A incorporação dessas espécies em sistemas agroflorestais apresenta-se não só como uma alternativa viável para a agricultura sustentável, mas também como um pilar potencial na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
A análise da literatura científica elucida o potencial inexplorado das espécies medicinais na bioeconomia, bem como o contexto atual em que poucas informações estão disponíveis sobre produtividade e comercialização em sistemas de policultivos. Percebe-se também uma tendência crescente no interesse e nas pesquisas acerca dessas espécies nos últimos anos, reflexo de uma crescente conscientização sobre sua importância estratégica.
O emprego sistemático das espécies medicinais nativas em agroecossistemas diversificados poderá oferecer, além de benefícios ecológicos, um reforço significativo ao desenvolvimento rural sustentável. Resultados apontam que as regiões brasileiras possuem uma vasta gama de espécies adaptadas às suas condições climáticas específicas, possibilitando o desenvolvimento local alinhado à preservação ambiental.
Assim, ressalta-se a necessidade de ações direcionadas como: investimento em pesquisa, assistência técnica rural especializada, desenvolvimento de tecnologias apropriadas e políticas públicas que incentivem a estruturação de cadeias produtivas robustas e sustentáveis. Estas medidas são essenciais para que a sociobiodiversidade não apenas participe, mas tenha um papel central na bioeconomia que se desenha para o futuro.
Os sistemas agroflorestais, pelo seu alto grau de adaptabilidade e multifuncionalidade, emergem como estruturas-chave para otimizar o uso das plantas medicinais. O premente desafio reside na implementação de práticas que efetivamente integrem a valorização dos saberes tradicionais e a inovação tecnológica, delineando um caminho para uma agricultura resiliente e harmonizada com as demandas de um planeta em constante mudança.
Fonte: Sistemas agroflorestais, plantas medicinais e a bioeconomia dos saberes populares. link do artigo