Um estudo recente realizado por pesquisadores brasileiros apontou efeitos nocivos de diversos pesticidas nas abelhas nativas Melipona scutellaris. Publicada na revista Environmental Pollution, a pesquisa destaca serias alterações comportamentais e morfológicas causadas por substâncias comumente usadas na agricultura: imidacloprido, piraclostrobina e glifosato.
O grupo de abelhas que ingeriu solução contaminada com esses compostos apresentou redução na locomoção e lentidão significativa, além de alterações em seu corpo gorduroso, parte integral do sistema imunológico dos insetos. Tais mudanças indicam um debilitamento das defesas, aumentando a suscetibilidade a doenças e infecções. Isto remete ao risco de um impacto direto na polinização e, consequentemente, na produção agrícola.
Os testes, parte do Programa BIOTA-FAPESP, foram realizados durante 48 horas, evidenciando os efeitos subletais dos pesticidas. Apesar de não resultarem em morte imediata, expõem as abelhas a uma vulnerabilidade prolongada que pode enfraquecer colmeias inteiras.
Cliver Fernandes Farder-Gomes, pesquisador da UFSCar, ressalta a gravidade da interferência dos agrotóxicos, que além de prejudicarem a mobilidade, causam danos em nível celular essencial para o sistema imune dos insetos. Essas observações evidenciam um cenário onde a sobrevivência das abelhas se torna tão problemática quanto a mortalidade direta causada por pesticidas.
A pesquisa também visa influenciar políticas públicas para uma abordagem mais cuidadosa no uso de agrotóxicos. O professor Osmar Malaspina da Unesp espera que a robustez dos dados coletados colabore na formação de diretrizes mais restritivas, em linha com tendências internacionais de proteção à biodiversidade.
O comprometimento com a produção agrícola sustentável é reforçado por Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, também da UFSCar, defendendo a necessidade de uma coexistência harmoniosa entre agricultura e conservação ambiental como pilar para a segurança alimentar futura.
O próximo passo da equipe é a avaliação do impacto desses pesticidas na expressão protéica das abelhas, ampliando o escopo para diferentes espécies nativas. O propósito é mapear de forma ampla os efeitos deletérios desses agrotóxicos e respaldar uma revisão nas práticas agrícolas.