Pesquisa em reservatório de São Paulo revela relevante dinâmica ambiental
A recente pesquisa liderada pelo geógrafo brasileiro Igor Ogashawara trouxe importantes avanços no entendimento da dinâmica ambiental em reservatórios tropicais. Focando no reservatório Billings, na região metropolitana de São Paulo, o estudo desenvolveu uma metodologia inovadora para a análise da qualidade da água, integrando conceitos e métodos da climatologia geográfica com técnicas hidro e limno-meteorológicas. O objetivo principal foi avaliar e analisar as florações de cianobactérias, um indicador crucial da qualidade da água nos reservatórios da Bacia do Alto Tietê.
O problema das cianobactérias para qualidade das águas
Cianobactérias são organismos vitais para a vida na Terra, envolvidos nos ciclos de carbono e nitrogênio, sendo procariontes, autotróficos e fotossintetizantes com pigmentos como clorofila e ficobilinas. Coloridas em tons variados, estas bactérias habitam ambientes aquáticos e terrestres, incluindo locais extremos como águas termais e lagos antárticos. Elas fazem parte do fitoplâncton, essencial para ecossistemas aquáticos. No entanto, atividades humanas, como despejo de esgoto, podem causar eutrofização, enriquecendo a água com nutrientes e provocando o crescimento descontrolado de fitoplâncton, um fenômeno conhecido como floração. Isso resulta em problemas ambientais e de saúde, como redução de oxigênio e morte de peixes, e as cianobactérias em excesso podem produzir toxinas perigosas (cianotoxinas), incluindo neurotoxinas e hepatotoxinas como a microcistina. Essas toxinas já causaram mortes em animais e humanos, destacando a importância do controle da qualidade da água e monitoramento das cianobactérias em reservatórios de água.
A pesquisa
Os dados meteorológicos, coletados pela estação do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, e os dados limnológicos, fornecidos pela SABESP, foram essenciais para o desenvolvimento deste estudo. A pesquisa revelou que o processo de floração das cianobactérias é influenciado por uma combinação de fatores meteorológicos, como temperatura e intensidade do vento, que podem afetar a estabilidade do reservatório, criando condições propícias para o desenvolvimento destas bactérias.
Um dos achados significativos foi a influência do ritmo de entrada das Frentes Polares Atlânticas durante o inverno em São Paulo. Esta frequência elevada acaba sendo um fator limitante para o crescimento das cianobactérias, ajudando a manter o equilíbrio do reservatório durante este período. Os tipos de tempo que podem causar instabilidade na coluna da água foram identificados como: entrada de Frentes Frias (66,67%), conflitos entre massas (22,22%) e Linha de Instabilidade Tropical (11,11%).
A análise rítmica e integrada dos dados demonstrou como os eventos climáticos impactam diretamente na qualidade da água do reservatório. Os pesquisadores utilizaram uma abordagem inovadora que integrou a análise rítmica da climatologia geográfica brasileira com séries temporais limnológicas, revelando padrões importantes na dinâmica de floração das cianobactérias.
Este estudo é particularmente relevante para a gestão dos recursos hídricos na região metropolitana de São Paulo. Os resultados oferecem uma base sólida para a elaboração de modelos preditivos de qualidade da água, que podem ser utilizados pelos gestores públicos e pela SABESP na administração dos reservatórios. Isso é crucial não apenas para a manutenção da qualidade da água, mas também para otimizar os custos de tratamento e garantir a disponibilidade hídrica.
Em suma, a pesquisa proporciona uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos que influenciam as florações de cianobactérias em reservatórios tropicais. Este conhecimento é fundamental para a elaboração de estratégias mais eficazes de gestão e monitoramento da qualidade da água, contribuindo significativamente para a bioeconomia e para a sustentabilidade ambiental em áreas de alta complexidade e densidade populacional como a região metropolitana de São Paulo.
Reconhecimento internacional: geógrafo brasileiro nomeado “Líder Emergente” pelo Grupo de Observações da Terra
O geógrafo brasileiro Igor Ogashawara foi recentemente reconhecido como “Líder Emergente” pelo Grupo de Observações da Terra (GEO), uma honraria que destaca a excelência da bioeconomia e ciência ambiental brasileiras. Ogashawara recebeu o prêmio em novembro, na Cidade do Cabo, África do Sul, por sua contribuição notável no GEO AquaWatch, um projeto dedicado ao monitoramento da qualidade da água utilizando dados de observação da Terra.
Ogashawara iniciou sua carreira acadêmica na Universidade Estadual Paulista, com foco em análise ambiental e geoprocessamento. Ele aprofundou seus estudos em sensoriamento remoto no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), especializando-se no monitoramento da qualidade da água. Sua atuação no GEO AquaWatch ilustra a aplicação eficaz de dados e análises na gestão dos recursos hídricos globais.
Como cofundador e presidente da Sociedade de Pesquisadores Jovens do AquaWatch, Ogashawara promove a pesquisa colaborativa e interdisciplinar, essencial no enfrentamento dos desafios ambientais contemporâneos. Sua premiação reflete a qualidade e a relevância da pesquisa ambiental brasileira, posicionando o Brasil como um participante ativo na ciência global.
Impacto Global e Futuro Sustentável: A Premiação de Igor Ogashawara
O reconhecimento de Ogashawara pelo GEO não é apenas um marco pessoal, mas também um testemunho da importância estratégica do Brasil na pesquisa ambiental global. Seu trabalho em sensoriamento remoto é um passo significativo para um futuro mais sustentável. Esta premiação reafirma a necessidade de continuar investindo e apoiando iniciativas como o GEO AquaWatch.
Em conclusão, a premiação de Igor Ogashawara é um momento de orgulho para a ciência brasileira e um exemplo do impacto global da pesquisa ambiental. Sua liderança e inovação no campo da bioeconomia e ciências ambientais são essenciais para o avanço de um futuro sustentável e responsável.
Fontes:
Agência FAPESP, ‘Geógrafo brasileiro recebe prêmio internacional do Grupo de Observações da Terra,’. Disponível: https://agencia.fapesp.br/geografo-brasileiro-recebe-premio-internacional-do-grupo-de-observacoes-da-terra/50657.
I. Ogashawara, J. A. Zavattini, e J. G. Tundisi, “O ritmo climático e as florações de cianobactérias em um reservatório tropical em São Paulo, Brasil,” Brazilian Journal of Biology, vol. 74, no. 1, pp. 72-78, Fev. 2014, doi: 10/14803-0.