O dilema da expansão global de laboratórios de contenção máxima

A intensificação das pesquisas envolvendo patógenos altamente perigosos é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que possui o potencial de preparar a humanidade para futuras pandemias, não está isenta de riscos. É imperativo que os países avaliem os perigos e estabeleçam procedimentos para gerir esses riscos, uma prática que ainda ocorre de forma insuficiente.

Um relatório recente da iniciativa Global Biolabs revelou um aumento considerável no número de laboratórios de contenção máxima ao redor do mundo – de apenas 13 em 2000 para 59 em 23 países em 2021, e para 69 em 27 países em 2023. Esta expansão não foi devidamente acompanhada de um reforço em segurança e proteção. Os laboratórios de contenção máxima são instalações que oferecem altíssimos níveis de proteção contra riscos para os trabalhadores, comunidade e meio ambiente.

No cenário internacional, existem orientações de organizações como a Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial de Saúde Animal para prevenir danos vindos de laboratórios de contenção máxima. No entanto, a aderência a essas diretrizes é voluntária, e a atualização contínua frente a avanços técnicos é um desafio constante. Uma base de evidências mais robusta é necessária para uma melhor avaliação dos riscos e eficácia das respostas.

Um risco notável da pesquisa de uso dual é a possibilidade de aplicação com intenções maliciosas. É essencial que haja uma maior atenção internacional para as pesquisas com usos potencialmente perigosos e duais. Organizações globais, como a International Biosecurity and Biosafety Initiative for Science, surgem com o intuito de minimizar riscos no desenvolvimento e implementação de ferramentas biotecnológicas, promovendo a integração de setores políticos, acadêmicos e públicos.

Em âmbito nacional, cada país com laboratório de contenção máxima deve estabelecer regras e regulamentos pertinentes. Deve estar claro o que pode e o que não pode ser pesquisado, quem é responsável e quais padrões devem ser seguidos. Plans de prevenção contra acidentes e danos deliberados são essenciais, e a estratégia de biosegurança do Reino Unido, lançada em junho, é um exemplo a ser seguido. A promoção de uma cultura forte de responsabilidade é outro pilar fundamental, exemplificado na competição International Genetically Engineered Machine.

A necessidade de tantos laboratórios levanta questionamentos importantes. Acesso equitativo é crucial para permitir que problemas locais sejam resolvidos localmente com o poder da biociência e biotecnologia. Todavia, laboratórios de contenção máxima são caros e complexos para operar. Existem estratégias alternativas que reduzem a necessidade de contenção ao pesquisar patógenos perigosos, como o estudo de partes de patógenos em microrganismos menos arriscados, uma prática comum na pesquisa básica e desenvolvimento de vacinas.

Ferramentas futuras, como a aprendizagem de máquina, podem diminuir ainda mais a necessidade desses laboratórios, apesar de não eliminá-la completamente. A inteligência artificial, por exemplo, oferece capacidades que necessitam de uma discussão contínua sobre suas implicações em biosegurança. A cimeira AI Safety Summit é uma dessas plataformas de diálogo sobre o potencial da IA no desenvolvimento de armas biológicas.

Com o aumento global das pesquisas com patógenos perigosos, a gestão de riscos torna-se uma preocupação central. É uma tarefa coletiva equilibrar a necessidade de pesquisa crítica com as medidas para garantir que o trabalho seja realizado de forma segura, segura e responsável.

Fonte: Piers Millett ,Safeguard the world’s worst pathogens.Science382,243-243(2023).DOI:10.1126/science.adl3600

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