Em um contexto onde as divergências nas estimativas de fluxos de CO₂ do uso da terra impactam significativamente a avaliação do progresso climático global, um estudo recente oferece uma perspectiva mais alinhada e consistente para a contabilidade desses fluxos. Antecipando a Conferência das Partes (COP28), tal trabalho se mostra vital para aferir o avanço sob o âmbito do Acordo de Paris.
A pesquisa, publicada na revista Nature e conduzida pela IIASA com coautoria do Centro Comum de Pesquisa (JRC), se debruça sobre a lacuna existente entre os inventários nacionais de Gases de Efeito Estufa (GHG), baseados em metodologias do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), e as estimativas dos modelos científicos globais. Essa disparidade é um complexo desafio para a avaliação coletiva do progresso climático e é evidenciada pelo contraste entre as definições de terra manejada, como aquela que cumpre funções sociais, ecológicas e econômicas para os inventários nacionais, e uma definição mais restrita nos modelos globais.
Ao utilizar o modelo climático OSCAR, a pesquisa alinha os caminhos globais aos inventários verdes dos países, destacando que as metas de emissão se tornam mais desafiadoras quando adotam a definição de países para sumidouros antropogênicos. Assim, a realização de emissões líquidas zero deve se antecipar em até cinco anos em relação às datas alvo anteriormente estimadas. O orçamento global de carbono remanescente, condizente com os objetivos do Acordo de Paris, necessita de redução.
O estudo alerta para o perigo de depender excessivamente dos sumidouros de CO₂ baseados em terra para metas climáticas nacionais, apontando o risco de se tornarem uma fonte líquida de emissões até o fim deste século. Tal risco decorre da previsão de um decréscimo no efeito de fertilização por CO₂, um motor que impulsiona o atual sumidouro de terra no contexto de cenários de aquecimento baixo, enquanto os impactos negativos das mudanças climáticas podem se intensificar.
Como recomendações, o estudo destaca a importância de transparência na contribuição esperada do setor de uso da terra para os alvos climáticos nacionais, a necessidade de clarear as promessas de desmatamento dos países e estabelecer um sistema de tradução operacional para um melhor entendimento entre as comunidades científica e prática. Adicionalmente, é proposto incorporar o alinhamento sugerido em futuros relatórios do IPCC.
Levando em conta a necessidade imperativa de cortes drásticos nas emissões nesta década para permanecer dentro dos limites do Acordo de Paris e manter o aumento de temperatura bem abaixo de 2°C, o estudo enfatiza a importância de mensurar o progresso de maneira uniforme. Ele fornece informações críticas para a próxima COP28, onde acontecerá o Balanço Global para avaliar o progresso climático coletivo, assim como para a próxima rodada de compromissos climáticos dos países, prevista para os próximos dois anos.