Bioeconomia brasileira sob nova perspectiva: pesquisadores aprimoram métodos de medição

O Brasil é um dos países com maior potencial para a bioeconomia no mundo, devido à sua vasta biodiversidade e recursos naturais. No entanto, medir a real contribuição da bioeconomia para a economia nacional ainda é um desafio. Esforços recentes de pesquisadores brasileiros têm buscado aprimorar os métodos e indicadores para quantificar o peso da bioeconomia no PIB do país.

De acordo com um estudo de Cicero Zanetti Lima e Thiago Pinto, da Fundação Getúlio Vargas, a cadeia de valor da bioeconomia respondeu por expressivos 19,6% do PIB brasileiro em 2019. Esse percentual é superior aos 13,8% encontrados anteriormente por Silva, Pereira e Martins em 2018. A diferença pode ser atribuída aos avanços metodológicos e à incorporação de setores antes desconsiderados.

Um dos principais desafios é a falta de uma definição padronizada da bioeconomia e de um sistema de classificação de atividades econômicas que capture adequadamente os setores relacionados. Grande parte dos estudos se concentra no conceito de bioeconomia baseada em biomassa (BmBB), com foco nos setores primários de agricultura, pecuária, pesca e silvicultura. Porém, essa visão limitada deixa de fora contribuições importantes de outros setores.

Pesquisadores argumentam que é preciso caminhar para a medição de uma bioeconomia holística, que integre também os conceitos de bioeconomia baseada em biotecnologia (BtBB) e bioeconomia baseada na biosfera (BsBB). Isso permitiria incorporar setores como a indústria bioquímica, farmacêutica, saúde humana e animal, biotecnologias marinhas, nanobiotecnologias e proteção ambiental, além de aspectos de sustentabilidade e limites biofísicos.

Outro desafio é o desenvolvimento de métodos e modelos capazes de lidar com a complexidade da bioeconomia. Atualmente, predominam técnicas de compilação de dados e estimativas, modelos de insumo-produto e matrizes de contabilidade social. Porém, esses métodos esbarram em limitações como dados incompletos, agregados ou desatualizados, pressupostos de linearidade e dificuldades de integração.

Apesar dos obstáculos, os pesquisadores brasileiros estão na vanguarda dos esforços para aprimorar a medição da bioeconomia. Avanços recentes incluem a proposição de uma matriz de contabilidade social da bioeconomia (BioSAM) e o uso de técnicas de mineração de texto e inteligência artificial para identificar atividades biotecnológicas. A integração com esforços de digitalização em curso em vários segmentos pode ser um caminho promissor.

Medir adequadamente a contribuição da bioeconomia é fundamental para embasar políticas públicas e atrair investimentos para o setor. O Brasil tem potencial para se tornar um líder global nessa nova economia baseada em recursos biológicos renováveis e conhecimento. Mas para isso, é preciso continuar avançando no desenvolvimento de métricas robustas e na integração dos diferentes aspectos da bioeconomia holística.

Fonte: S. Leavy, G. Allegretti, E. Presotto, M. A. Montoya, E. Talamini, ‘Measuring the bioeconomy economically: exploring the connections between concepts, methods, data, indicators and their limitations’, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, 2023.

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