Menos dúvidas sobre a origem da terra preta amazônica.

A terra preta da Amazônia, um interesse de longa data de arqueólogos, antropólogos e especialistas do solo, está ganhando destaque por sua origem e potenciais benefícios ecológicos. Em um artigo recente publicado em Science Advances, pesquisadores propõem que a formação dessa terra fértil é resultante da intencionalidade dos povos indígenas, não uma consequência de descarte casual de resíduos.

Os pesquisadores descobriram que a terra preta é rica em nutrientes vitais para o cultivo, como fósforo, cálcio, magnésio e nitrogênio. Sua presença na floresta amazônica também investiga o entendimento de que a região, devido à sua falta de solo fértil, não era capaz de suportar uma grande população. No entanto, explica Jennifer Watling, coautora do estudo, a terra preta oferece evidências de grandes populações vivendo naquele território por longos períodos.

Essa terra rica em nutrientes tem uma outra vantagem crucial: é capaz de sequestrar carbono da atmosfera e estocá-lo. No decorrer do tempo, há acúmulo persistente de carbono na terra preta. Esta característica pode ter implicações significativas para discussões sobre mudanças climáticas e soluções de mitigação.

Uma característica chave da terra preta é seu alto teor de carbono pirogênico, produzido a partir da queima de material orgânico. Essa prática de utilizar cinzas das fogueiras domésticas para a produção de terra preta é ainda realizada por indígenas, como explica Morgan Schmidt, geógrafo, arqueólogo e primeiro autor do artigo.

No entanto, o aquecimento resultante das mudanças climáticas é uma preocupação para a conservação deste tipo de solo. O aquecimento do solo pode levar à decomposição mais rápida do carbono. Além disso, preocupações são levantadas sobre como as mudanças climáticas podem influenciar os hábitos de consumo dos povos indígenas que ainda preparam a terra preta e os possíveis impactos disso na formação desse solo.

Presente ao longo das extensões da floresta amazônica, as práticas de criação e utilização da terra preta contrastam com a percepção de que o solo é formado pela mera acumulação de descarte orgânico. Ao desmascarar tal interpretação, este estudo fornece insights únicos sobre a complexidade das práticas agrícolas indígenas e a sabedoria ancestral.

Apesar da controvérsia em torno da datação do solo, o estudo reforça a importância da terra preta não apenas como um testemunho das práticas sustentáveis indígenas do passado, mas também como uma possível solução para os desafios ambientais atuais.


Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/menos-duvidas-sobre-a-origem-da-terra-preta-amazonica/

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