As leguminosas pulses emergem como protagonistas nos debates sobre segurança alimentar e desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. Diante de um contexto de insegurança alimentar agravada pela pandemia, onde 33,1 milhões de brasileiros enfrentam falta de alimentos, esses grãos destacam-se por sua riqueza nutricional e potencial econômico. Com um foco especial nas regiões Norte e Nordeste, que vivenciam as formas mais agudas dessa insegurança, é evidente a necessidade de diversificação alimentar e nutricional, área em que os pulses podem ter um papel central.
Estamos presenciando um declínio na produção de alimentos básicos como arroz e feijão, um alerta para a necessidade urgente de revitalizar culturas capazes de fornecer proteínas e fibras com baixo teor de gorduras. Os pulses, em particular, são destacados pela ONU e FAO como essenciais na dieta humana e constituem alternativas sustentáveis ao consumo de proteína animal — uma contribuição vital para populações com acesso limitado a fontes de proteína de qualidade.
No que tange à produção, o Brasil ainda centra-se nos feijões, mas há sinais que apontam para o crescimento do segmento de pulses, que ainda é modesto. As exportações de 2021, por exemplo, atingiram US$ 140,6 milhões, evidenciando o potencial do mercado interno e externo. Tal expansão seria uma estratégia válida para diversificar as áreas produtivas e fomentar a economia rural.
Do ponto de vista agronômico, as leguminosas pulses possuem uma vantagem significativa: a capacidade de formar associações simbióticas com bactérias fixadoras de nitrogênio, reduzindo significativamente o uso de fertilizantes solúveis. Isto não só facilita o cultivo em solos de baixa fertilidade, mas também propõe um modelo agrícola mais auto-sustentável e menos dependente de insumos químicos. É no contexto de práticas agrícolas regenerativas e sustentáveis que os bioinsumos e a fixação biológica de nitrogênio, a exemplo dos estudos realizados com o feijão-mungo, despontam como promissores para a agricultura familiar e o meio ambiente.
Com o reconhecimento do Programa Nacional de Bioinsumos, do Mapa, o uso de inoculantes torna-se uma ferramenta estratégica, endossando a importância desses insumos na melhoria da qualidade das plantações e na diminuição da incidência de doenças e pragas. O acesso ampliado a sementes básicas e inoculantes eficazes pode sinalizar um caminho viável rumo a um novo modelo de política pública, enfrentando desafios críticos como a insegurança alimentar.
O Brasil, nesse cenário, é um possível pioneiro em uma abordagem integrativa de leguminosas pulses e bioinsumos, estando na vanguarda de soluções que prometem não somente combater a fome, mas gerar renda e promover um desenvolvimento rural congruente com os princípios da sustentabilidade. Tal iniciativa não apenas fortaleceria a economia e a segurança alimentar nacional, mas também serviria de exemplo para países ao redor do mundo, particularmente na África, onde essas práticas agrícolas sustentáveis e nutritivas são mais do que necessárias – elas são vitais.