Investidores brasileiros e a bioeconomia: fronteira crucial na luta contra a mudança climática

À medida que o Brasil enfrenta os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela perda de biodiversidade, a área da agropecuária se destaca tanto pelos impactos negativos quanto pelas oportunidades de transformação. Com uma população bovina equiparada à população humana, o desmatamento para atividades agrícolas responde por quase três quartos das emissões de gases do efeito estufa no país, segundo dados que mostram mais de 2.500 km² de floresta tombada no primeiro semestre de 2023. A intensificação agrícola, responsável por ocupar um terço do território nacional, destaca-se como pilar central da economia brasileira, com sua forte dependência de conglomerados agrícolas e da exportação de commodities como carne, soja e açúcar.

Por outro lado, a bioeconomia brasileira é fronteiriça quando se trata das consequências das mudanças climáticas. A escassez de água e os incêndios sem precedentes comprometem a produção agrícola e a pecuária, agravando a insegurança alimentar e questionando nossa competitividade no cenário global. O Instituto Escolhas projeta que a recuperação de cerca de um milhão de hectares através de sistemas de agroflorestas poderia gerar renda líquida de US$ 51,3 bilhões, remover mais de 180 milhões de toneladas de CO2 e produzir 156 milhões de toneladas de alimentos. Desta forma, a adoção de cadeias de fornecimento com zero desmatamento torna-se essencial para mitigar os impactos climáticos e promover a resiliência.

Posicionar-se como investidor brasileiro nesta conjuntura implica em assumir uma perspectiva única e engajada, alinhando esforços para atingir as metas de emissões líquidas zero e eliminação do desmatamento. Diferentemente de outras regiões onde o desinvestimento em setores críticos pode ser uma estratégia viável, no Brasil, investir proativamente em empresas ligadas ao desmatamento como forma de impulsionar suas transformações é visto como o caminho mais pragmático e efetivo.

Exemplificando essa postura ativista, os investidores brasileiros estão identificando e atuando com empresas como a JBS, maior produtora mundial de carne e notória por suas emissões de metano e associação com o desmatamento ilegal. O engajamento com a JBS e outras empresas do setor tem como objetivo promover mudanças operacionais profundas, incentivando práticas de negócios sustentáveis e melhorias na gestão de cadeias de fornecimento. A colaboração com iniciativas como o Climate Action 100+ e a Finance Sector Deforestation Action reflete uma busca coordenada por um desempenho ambiental superior.

Ferramentas e conjuntos de dados de acesso público, como Forest IQ, CDP Forests e Forest 500, estão disponíveis para ajudar investidores a avaliar as empresas mais expostas aos riscos e oportunidades relacionados ao desmatamento e às mudanças climáticas. Parte desse processo inclui a implementação de práticas de propriedade ativa, incentivando não apenas a redução de emissões, mas também a melhoria no manejo de resíduos, como é o caso da gestão de esterco pela JBS, com o apoio da rede de investidores FAIRR.

A colaboração com empresas dos setores de processamento de alimentos e mineração também está em foco, visando promoções similares e desenvolvimento de instrumentos financeiros para recuperar a vegetação nativa. Essas estratégias de propriedade ativa visam reformas abrangentes nas práticas empresariais para privilegiar resultados ambientais mais favoráveis e adaptações ao clima atual.

Na véspera dos importantes eventos internacionais como as reuniões do G20 em 2024 e a COP do clima em 2025, que colocarão o Brasil e o mercado financeiro brasileiro sob os holofotes, torna-se imperioso para o país expressar de forma coerente seu compromisso com o desenvolvimento econômico aliado à sustentabilidade ambiental e inclusão social. Neste contexto, o fim do desmatamento é uma peça fundamental para alcançar o status de primeira grande economia global a atingir o net zero, balanceando desenvolvimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental transgeracional.

Fonte:Reuters

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