Impactos da bioeconomia na Europa: custos ambientais e redução de empregos rurais

A Estrategia de Bioeconomia promovida pela Comissão Europeia traz preocupações quanto ao impacto verdadeiro de suas iniciativas no meio rural. A promessa de crescimento econômico sustentável e criação de novos empregos, particularmente em áreas rurais, é uma narrativa que não se sustenta ao se analisar os dados disponíveis.

De acordo com um estudo recente, a implementação da Estratégia de Bioeconomia Europeia resultou numa queda significativa no emprego do setor primário. Entre 2008 e 2020, o número de empregos na agricultura caiu drasticamente de 11,3 milhões para 8,7 milhões, um declínio de 23,4%. Contrariamente, houve um aumento no faturamento deste setor, impulsionado por uma maior concentração de terras e mecanização agrícola.

Embora a estratégia incentive a criação de novas indústrias de bioenergia e biocompostos, os números de emprego não compensam as perdas no setor agrícola. No setor de bioenergia, por exemplo, o emprego cresceu 82% nos biocombustíveis líquidos e 211% na eletricidade de base biológica, enquanto o faturamento aumento 91,2% e 264,6%, respectivamente. Contudo, estes aumentos são insuficientes para compensar a perda de mais de 2,6 milhões de empregos na agricultura.

O impacto ambiental da estratégia é outro ponto de crítica. Estudos baseados em registros de satélite de alta resolução mostraram um aumento notável na área de florestas colhidas após 2015, com um crescimento de 43% na média anual de áreas colhidas entre 2016 e 2018, em comparação com 2011 a 2015. Tal aumento agrava a perda de carbono sequestrado pelas florestas, contrariando o objetivo de mitigação das mudanças climáticas.

A Visão de Longo Prazo para as Áreas Rurais da UE até 2040, que integra a estratégia, propõe a transformação dessas regiões em fornecedores de biomassa para a indústria e energia. Vê-se, assim, uma conversão dos espaços rurais em centros de produção de biomassa, biorefinarias e infraestrutura de suporte, o que intensifica a industrialização dessas áreas.

Ademais, a digitalização e automação agrícola emergem como uma tendência inevitável, afetando negativamente os empregos tradicionais. A introdução de tecnologias de ponta e a transformação digital resultam em menores necessidades de mão-de-obra agrícola, reforçando o êxodo rural e a concentração de terras.

A análise dos dados revela uma discrepância entre a narrativa oficial da Comissão Europeia e a realidade observada no terreno. A estratégia, no formato atual, não se mostra favorável ao meio rural, prejudicando o emprego agrícola, intensificando a industrialização e afetando negativamente o meio ambiente. Tal cenário pede uma reavaliação das políticas para garantir uma verdadeira sustentabilidade econômica e ambiental nas áreas rurais europeias.

Fonte: The Bioeconomy Strategy as promoting high-tech extractivism and green dictatorship

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