Um levantamento realizada pela entidade ambientalista Greenpeace aponta uma ligação preocupante entre instituições financeiras e desmatamento ilegal na Amazônia. O relatório intitulado ‘Bancando a extinção’ desvenda uma série de empréstimos e financiamentos por bancos nacionais e internacionais, como Rabobank e Santander, a fazendas com antecedentes de infrações ambientais na região.
Entre os casos expostos, destaca-se uma fazenda no Acre, que, apesar de ter registros de desmatamento sem autorização e uma área previamente embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desde 2012, recebeu financiamento de R$ 127,5 mil do Banco de Lage Landen Brasil, subsidiária do holandês Rabobank, em julho de 2019.
Durante o período de investigação, estima-se que mais de 130 campos de futebol de florestas foram derrubados ilegalmente na mesma propriedade. O Rabobank Internacional Brasil, seguindo sua política de responsabilidade social e ambiental que rejeita crédito a qualquer envolvimento com desmatamento não autorizado pós-janeiro de 2005, parece não ter aplicado estas diretrizes com rigor, visto que emprestou quase R$ 1 milhão a uma fazenda no Pará sob suspeita de corte ilegal da floresta.
O Banco Santander, também citado no estudo, concedeu mais de R$ 2 milhões a um produtor rural no Pará, onde ocorreu supressão de áreas florestais sem permissão. No total, a pesquisa do Greenpeace identificou 798 propriedades rurais sob embargo do Ibama, mas que ainda assim foram financiadas. No entanto, essas instituições parecem apenas avaliar tais critérios no ato da assinatura do contrato, sem monitoramento contínuo da propriedade.
Instituições financeiras brasileiras igualmente compõem este panorama, como o Banco do Brasil que, segundo o relatório, destinou aproximadamente R$ 1,4 milhão para financiar uma fazenda acreana com sinais de destruição ilegal da vegetação. Tal prática contraria a resolução n. 5.081, do Conselho Monetário Nacional, vigente desde junho de 2023, que veda crédito para empreendimentos em áreas de conservação.
O documento do Greenpeace também evidencia a necessidade de maior transparência e rigor em regulamentações socioambientais para créditos rurais e convencionais no Brasil, e levanta questões sobre a eficácia das regras existentes. O cenário complexo do crédito rural brasileiro, que é o principal financiador do agronegócio no país, revelando-se um segmento onde a atuação de 425 instituições financeiras converge em práticas que precisam ser reformuladas para garantir a preservação ambiental.
Ambos, Rabobank e Santander, manifestaram a intenção de investigar as inconsistências apontadas no relatório e dialogar de maneira construtiva sobre suas práticas respectivas. Enquanto isso, o Banco do Brasil se absteve de comentar detalhes específicos, citando o respeito ao sigilo bancário, mas destacou os critérios socioambientais observados em suas operações de crédito.
O relatório sugere uma reflexão sobre a responsabilidade dos bancos na crise ambiental vivenciada na Amazônia, ressoando as palavras de André Guimarães, do Ipam, que desafia as instituições financeiras a adotarem modelos próprios de análises mais minuciosas para evitar o financiamento a negócios que ferem a sustentabilidade e a conservação das florestas brasileiras.