Surgimento do Hidrogênio Natural: a Nova Fronteira da Bioeconomia Global
Em um cenário onde já nos familiarizamos com parques solares e turbinas eólicas, o setor de energia limpa revela nichos menores, mais arriscados, mas potencialmente revolucionários. Uma dessas vertentes da bioeconomia busca evidenciar a existência de vastos depósitos subterrâneos de hidrogênio natural – um combustível livre de emissões de carbono, que se renova continuamente sob a superfície terrestre, mediante a reação de água e minerais de ferro em altas temperaturas.
Estudos iniciais apontam para uma quantidade acessível de hidrogênio natural suficiente para suprir as necessidades de energia limpa do planeta por gerações. Isso é algo que poderia, efetivamente, mudar as regras do jogo no que se refere ao fornecimento global de energia.
Hydroma, uma empresa com origens no Canadá, e a Natural Hydrogen Energy LLC nos Estados Unidos, estão entre as companhias emergentes que aposta forte neste mercado. A jornada da Hydroma começou após a descoberta de hidrogênio natural em 2007, em uma aldeia no Mali, quando testes de um poço de água mostraram que ele liberava 98% de hidrogênio natural. A aldeia de Bourakébougou se tornou a primeira do mundo a usar o hidrogênio como fonte de eletricidade, proporcionando não apenas iluminação, mas também melhorias significativas na educação e na qualidade de vida dos habitantes locais.
Desde então, a Hydroma tem perfurado 30 poços em uma área do tamanho da Suíça, todos com altas concentrações de hidrogênio. O potencial impressiona: estima-se que existam 630 bilhões de metros cúbicos de hidrogênio no campo de Mali.
A busca por hidrogênio natural não é livre de desafios. Os investimentos são altos, a política volátil do Mali complica o desenvolvimento, e ainda há muito que se aprender sobre como o hidrogênio se forma e se acumula no subsolo. Além disso, a transferência e o armazenamento em larga escala ainda são problemas a serem superados devido à natureza difusiva do hidrogênio.
A indústria já existente de hidrogênio, estimada em 150 bilhões de dólares, se baseia principalmente na separação do hidrogênio de outros elementos, um processo que demanda enorme quantidade de energia, geralmente originada de combustíveis fósseis. Enquanto isso, a produção de hidrogênio verde, mais sustentável, permanece custosa.
Apesar disso, governos mundo afora estão investindo bilhões na produção e armazenamento de hidrogênio como resposta à vulnerabilidade energética exposta pela invasão russa na Ucrânia. A expectativa é de que o mercado de hidrogênio natural possa atingir 75 bilhões de dólares até 2030.
Diante de um contexto de emergência climática e com a necessidade urgente de encontrar soluções para setores difíceis de descarbonizar, como aviação e fabricação de aço, o hidrogênio natural apresenta-se como uma promessa de fonte primária de energia renovável, econômica e extremamente compatível com a infraestrutura existente.
O entusiasmo é perceptível entre aqueles que navegam na vanguarda desse campo experimental, apesar dos obstáculos. O setor de petróleo e gás, por enquanto, observa cautelosamente, aguardando uma maturidade maior do setor que, caso se concretize, poderá representar um “presente” para a indústria – um caminho para transição energética que não apenas honra as metas ambientais globais, mas também promove o desenvolvimento tecnológico e econômico regional e internacional.
Fonte: https://www.independent.co.uk/climate-change/news/clean-energy-white-hydrogen-b2444879.html