Curiosidade científica e o desejo de desvendar o misterioso mundo dos peixes-elétricos do Amazonas guiam uma nova expedição em busca de espécies pouco conhecidas e, potencialmente, descrições de novos organismos. Cercados pelas águas enigmáticas do rio Negro, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram uma jornada através deste retiro biodiverso com o objetivo de explorar a diversidade da ordem Gymnotiformes, que inclui o renomado poraquê.
Conhecidos por sua capacidade de emitir potentes descargas elétricas, fenômeno que não somente permite a captura de presas, mas também a comunicação e a navegação em águas turvas, os poraquês são apenas uma fração deste grupo fascinante. De fato, são cerca de 250 espécies na ordem dos Gymnotiformes, muitas das quais permanecem estudadas insuficientemente ou até desconhecidas pela ciência moderna.
Um desses enigmáticos habitantes é Iracema caiana, um peixe-elétrico identificado apenas uma vez na história, em 1968, e que desde então mergulhou em um véu de mistério. A esperança está na expedição recente que pretende não apenas encontrar Iracema caiana novamente, mas também descobrir espécies inéditas e ampliar o conhecimento sobre as já existentes, colocando luz sobre as ricas tramas ecológicas e evolutivas que caracterizam os sistemas fluviais da Amazônia.
A equipe, que conta com aproximadamente 20 pessoas a bordo da embarcação Comandante Gomes, realizará coletas ao longo do percurso desde Manaus até Santa Isabel do Rio Negro. O itinerário remontará as expedições do projetado Calhamazon nos anos 1990 e os passos do naturalista Alfred Russel Wallace, proporcionando não apenas um olhar sobre a fauna e flora nativa, mas também uma rica experiência de campo para os mestrandos e doutorandos presentes.
As descobertas anteriores do projeto, como a identificação de duas novas espécies de poraquê em 2019, galvanizaram a atenção internacional. Agora, a possibilidade de avançar na genética de populações e coletar amostras de material genético suscita a expectativa de contribuições substanciais para a ciência e conservação. Equipamentos de ponta permitirão o sequenciamento de DNA mesmo de espécimes preservados em formol, abrindo novas perspectivas para o estudo do DNA histórico.
O trabalho transcende a mera coleta, nutrindo a consciência acerca da importância da diversidade genética e a necessidade de preservá-la. Envolve ainda uma colaboração sem precedentes entre instituições de pesquisa de prestígio, reforçando a conexão entre a academia e a conservação da biodiversidade da Amazônia, um tesouro natural e fonte incalculável de conhecimento.
Ciência, aventura e um compromisso profundo com a compreensão e preservação da vida aquática amazônica se entrelaçam nesta expedição, prometendo não apenas novidades para a ciência, mas também fortalecendo a ponte entre a rica biodiversidade dessa região e o mundo atento que busca decifrá-la.