Os países da Europa Central e Oriental (ECO) estão mobilizando esforços que visam uma reviravolta estratégica no eixo da bioeconomia, almejando a criação de cadeias de valor biológicas de maior valor agregado. Um propulsor importante para esse movimento é a Hungria, que, ao assumir a presidência da União Europeia (UE) no segundo semestre deste ano, planeja impulsionar o desenvolvimento de bioeconomias mais avançadas na região.
Este plano de ação da Hungria inclui nações como Bulgária, República Tcheca, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia, em uma proposta que sinaliza o possível lançamento de um novo programa do Horizonte Europa ou uma parceria estabelecida com a UE, assemelhando-se ao Programa de Pesquisa e Inovação na Área do Mediterrâneo (PRIMA), com foco primário em investimentos no setor agrícola.
A pretensão é direcionar aproximadamente €400 milhões iniciais, oriundos de certos Estados-membros e da Comissão, para atrair investimentos privados orgânicos futuros que se fixem em instalações de processamento na região. Estas instalações são a chave para converter vasta produção de biomassa local em insumos químicos industriais e materiais avançados, inserindo essas nações num modelo de economia que se desvencilha dos tradicionais processos carbono-intensivos ou baseados em combustíveis fósseis.
Neste estágio, a bioeconomia local é predominantemente ancorada no setor de alimentos e rações, com uma participação menor em produtos industriais de maior valor. Entretanto, a região ECO destaca-se pela abundante produção agrícola, um alicerce promissor para o avanço nas áreas de biotecnologia e materiais. Com efeito, a região representa 36,1% da produção de cereais da UE-26 e aproximadamente 28% do fornecimento de biomassa para a UE, excedendo a média do bloco e configurando-se como uma exportadora líquida de biomassa, com um acréscimo de 7.1% em 2019 em comparação a 2008.
Em consonância com esses números, a Hungria vem registrando uma expansão na valorização de sua bioeconomia, com incremento de 35% desde 2008, liderado notavelmente por seu setor de biocombustíveis líquidos. Contudo, para realmente capitalizar nesses recursos e praticar uma bioeconomia de maior valor agregado, facilitar a transformação da biomassa agrícola em bens de mais alto valor como químicos ou materiais é essencial.
A inicitiva Bioeast, um esforço de colaboração multilateral em pesquisas biológicas na ECO e definição de políticas de bioeconomia compartilhadas, é reflexo desse ímpeto coletivo agregador. Os países membros veem a cooperação transnacional como um vetor para maximizar seus potenciais, especialmente considerando que o avanço científico na área não é uniformemente distribuído. O interesse acadêmico nas ciências da vida, preponderante na República Tcheca, por exemplo, não é traduzido em capacidade industrial sem uma cultura empresarial forte e instituições fomentadoras da transição de laboratório para startups.
Diante de um cenário que ainda se delineia, a Hungria propõe um programa de bioeconomia regional, visando um conjunto de obstáculos similares no desenvolvimento das bioeconomias de valor acrescentado entre os países da ECO. Além das sinergias em capacitação técnica e mão de obra qualificada, formar uma densa rede de partes interessadas pode alavancar uma economia de escala eficiente por meio de ‘Bioclusters’, minimizando os custos logísticos e unindo as etapas da cadeia de suprimentos biológicos.
O desafio se estende à complexa relação política entre a Hungria e a UE. Contínuas tensões políticas entre o bloco e o governo de direita de Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro desde 2010, não têm ofuscado a dependência econômica mútua, com subsídios da UE apoiando a elite agrária húngara e a Hungria mantendo um papel chave no suporte à integração do bloco. Nessa conjuntura, a bioeconomia emerge como mais um campo onde um pragmatismo direcionado poderá prevalecer, alavancando benefícios recíprocos em meio a desafios políticos.