Em um avanço promissor para o tratamento da depressão maior, pesquisadores identificaram que drogas antidepressivas de ação rápida, como a cetamina e a psilocibina, podem alterar viés afetivo negativo em ratos, contribuindo para uma melhora imediata do humor dos pacientes. Este estudo, publicado recentemente, pode oferecer insights fundamentais sobre como esses tratamentos psicodélicos atuam no cérebro e a razão de seus efeitos positivos sustentados.
A pesquisa realizada introduziu um teste de viés afetivo comportamental em ratos, um modelo que simula os estados afetivos negativos associados ao transtorno depressivo maior (MDD). Os ratos foram treinados a associar diferentes substratos de escavação com uma recompensa alimentar, alternando entre estados afetivos neutros e negativos. Observou-se que doses baixas, ao contrário de doses altas, dos antidepressivos de ação rápida (RAADs) foram capazes de reverter o viés afetivo negativo em menos de 24 horas após tratamento. O mais notável foi o efeito positivo da psilocibina, que induziu um viés afetivo positivo, algo não observado com cetamina ou escopolamina.
O mecanismo por trás desses resultados envolve a plasticidade neural no córtex pré-frontal medial dos ratos. A cetamina, em particular, potencializou essa plasticidade neuronal, sugerindo uma conexão fundamental entre os efeitos do RAAD sobre a plasticidade neural e a modulação do viés afetivo. Esse achado não é apenas um marco na pesquisa neurocientífica, mas abre caminho para compreender como esses medicamentos podem oferecer melhorias duradouras no tratamento de um transtorno que afeta milhões de pessoas mundialmente.
A descoberta da capacidade dessas drogas em induzir mudanças físicas no cérebro também reflete o potencial desses tratamentos em provocar melhorias de longa duração no humor dos pacientes de MDD, um avanço notável na bioeconomia da saúde e no desenvolvimento de novos tratamentos psicodélicos. Com a continuidade da pesquisa e regulações adequadas, estas terapias podem transformar o cenário do tratamento para depressão e reforçar o compromisso com soluções sustentáveis e responsabilidade social em saúde mental.
Fonte: Hinchcliffe J.K., Stuart S.A., […] Robinson E.S.J. et al. ‘Rapid-acting antidepressant drugs modulate affective bias in rats’. Science Translational Medicine. 10 Jan 2024. Vol 16, Issue 729. DOI: 10.1126/scitranslmed.adi2403 https://www.science.org/doi/10.1126/scitranslmed.adi2403