Esquema pioneiro da Inglaterra para restauração da biodiversidade enfrenta desafios críticos

A Inglaterra está à beira de implementar um ambicioso esquema para restaurar a vida selvagem, conhecido como o programa de ganho líquido de biodiversidade (BNG – Biodiversity Net Gain). O projeto ainda enfrenta atrasos e incertezas, mas promete proteger e realçar a biodiversidade, com expectativa de lançamento neste mês. Uma das propostas do esquema é que novo desenvolvimentos imobiliários, estradas e outros projetos estruturais precisarão alcançar um ganho líquido de 10% em biodiversidade, caso haja danos à natureza existente no local.

O Iford Estate, uma fazenda situada em East Sussex, é um dos cinco locais escolhidos pelo governo para o projeto piloto. O gerente da fazenda, Ben Taylor, refere-se à manobra como ‘habitat banking’, transformando as terras, há décadas dedicadas ao plantio de culturas aráveis, em vibrantes tapetes de flores silvestres destinadas a perdurar, com contratos de gestão para a vida selvagem estabelecidos por 30 anos.

O plano ambicioso de Taylor é converter dois terços da fazenda de 3.000 hectares em BNG, o que resultaria em 3.000 unidades e poderia gerar mais de £75 milhões ao longo de 30 anos. Apesar do potencial lucrativo, o mercado emergente não está sem seus riscos devido à natureza especulativa e ao longo prazo de bloqueio de terras.

Além das motivações econômicas, há também uma forte influência das mudanças climáticas na decisão de mudar para BNG. Taylor afirma que as alterações climáticas são inegáveis e estão direcionando a fazenda nesta nova direção, citando exemplos como áreas propensas a inundações que agora se considera transformar em pântanos para pastagem controlada por inundações.

No entanto, existe uma preocupação manifestada por pesquisadores da Universidade de Kent e da Universidade de Oxford sobre a implementação efetiva da política. Um estudo aponta que mais de um quarto das unidades de BNG podem não resultar em aumentos reais da biodiversidade, especialmente devido à falta de um sistema de fiscalização adequado para as promessas de habitat feitas pelos desenvolvedores.

Críticos sugerem medidas como verificações de campo por oficiais governamentais ou o uso de imagens de satélite para assegurar o cumprimento dos objetivos da BNG. A preocupação aumenta com iniciativas governamentais recentes que tentam reverter regulamentos destinados a proteger rios contra poluição, o que ilustra a fragilidade das medidas de biodiversidade.

Apesar das incertezas, o setor de desenvolvimento já acumula créditos antecipando a nova legislação. O Projeto Éden em Cornwall, por exemplo, criou uma nova empresa que usará as unidades BNG para criar habitats ricos em flores. De 2017 até agora, a equipe já estabeleceu 50 hectares de habitats de flores silvestres e planeja criar 1.000 hectares ao longo da próxima década. O esquema poderia representar um passo importante para reverter a perda de 97% dos prados de flores silvestres existentes no Reino Unido desde a década de 1930.


Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2024/jan/08/flowers-everywhere-englands-ambitious-scheme-to-restore-wildlife-hangs-in-the-balance-aoe

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