Crise de poluição do ar no norte da Itália ameaça a saúde de milhões

O norte da Itália, especificamente na região do Vale do Pó, enfrenta uma severa crise de poluição do ar, com consequências diretas para a saúde dos mais de 16 milhões de italianos residentes na área. Em meio à paisagem industrial de Modena, uma das cidades afetadas, Valentina relata com preocupação o histórico médico familiar marcado por casos de câncer – um mal que também a afetou, bem como seu esposo, Andrea. Embora não haja comprovação absoluta, a poluição é apontada como potencial agravante desses quadros de saúde.

A qualidade do ar no Vale do Pó é uma das piores da Europa, com cidades como Milão e Turim sendo epicentros de poluentes nocivos resultantes do tráfego, aquecimento interno por combustão de madeira e atividades industriais diversas, incluindo agricultura e engenharia. Essa situação se reflete em altas taxas de mortalidade por câncer na região, apesar do norte italiano possuir índices de saúde geralmente superiores em comparação ao sul do país.

Nitrogênio dióxido, ozônio e partículas inaláveis, particularmente PM10 e PM2.5, são classificados entre os mais prejudiciais à saúde, relacionados a um pico de óbitos prematuros e casos de câncer de pulmão. A Itália registrou, segundo a Agência Europeia do Ambiente, o maior número de mortes prematuras devido à exposição ao dióxido de nitrogênio entre os países europeus no ano de 2021.

O desafio para melhorar a qualidade do ar é amplificado pelas próprias características geográficas do Vale do Pó, circundado pelos Alpes e pelo Apeninos, que contribuem para a retenção de poluentes. Fatores meteorológicos, como a baixa circulação de ventos no inverno, exacerbam a concentração de substâncias nocivas, expondo a população por períodos mais prolongados.

Apesar de tais obstáculos, houve avanços significativos nas últimas duas décadas, com a implementação de medidas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a adoção de sistemas de aquecimento mais ecologicamente corretos. Em sinal de progresso, os índices de PM10, PM2.5 e dióxido de nitrogênio atingiram, em 2023, os limites recomendados na legislação nacional, apontando para uma melhoria na atmosfera da região.

Beatrice Bos, líder do movimento Our Youth 4 Climate Milano, ressalta a necessidade de conscientização sobre a gravidade da poluição em Milão e áreas adjacentes. Da mesma forma, organizações como Legambiente, representada por Barbara Meggetto e Paola Fagioli, argumentam pela urgência de campanhas informativas mais robustas e políticas ambientais inovadoras, destacando um chamado à ação climática urgente.

Confrontando-se não apenas com limitações geológicas e meteorológicas, mas também com desafios políticos e econômicos, o Vale do Pó traça um caminho árduo em direção ao objetivo de zero poluição do ar estabelecido pela União Europeia para 2050.


Fonte: https://www.euronews.com/green/2024/03/30/po-valley-air-pollution-is-causing-serious-health-risks-for-more-than-16-million-italians

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