Na busca incessante pela sustentabilidade industrial, dois conceitos fundamentais têm emergido no horizonte da bioeconomia: materiais biobaseados e a prática de circularidade. Substituir substâncias petroquímicas por materiais biobaseados promete reduzir drasticamente os impactos ambientais da indústria. Contudo, para alcançar uma sustentabilidade verdadeira nas cadeias de suprimentos, a circularidade revela-se tão crucial quanto o uso de materiais renováveis. Isso leva a questionarmos: por que a circularidade é essencial para a bioeconomia?
Materiais biobaseados são oriundos de recursos de crescimento biológico, como madeira, algas e cascas de crustáceos, que podem ser transformados em substâncias complexas com aplicações diversas. Por serem considerados alternativas sustentáveis frente aos produtos petroquímicos, atraem a atenção global. No entanto, a sua sustentabilidade pode ser comprometida na ausência de circularidade. Diferentemente dos produtos biobaseados, produtos circulares são criados a partir de subprodutos de resíduos ou pelo reaproveitamento de produtos antigos. O ciclo de vida circular envolve converter materiais de baixo valor, destinados ao descarte, em matérias-primas valiosas, capazes de serem utilizados em novas funções valiosas após o término de sua vida útil.
Os benefícios da manufatura circular são duplos: primeiro, podem reduzir a demanda da indústria por novas matérias-primas, deslocando a necessidade de mineração e energia que seriam necessárias para processar materiais virgens. Segundo, corta drasticamente a quantidade de resíduos industriais encaminhados para aterros sanitários. Esse último ponto é especialmente crítico, pois a prática de descarte em aterros causa danos ecológicos significativos, afetando a saúde humana e a biodiversidade.
Tomemos como exemplo um material de embalagem compostável, produzido a partir de resíduos agrícolas. Este utiliza matéria-prima desperdiçada, eliminando a necessidade de insumos petroquímicos usados em sacolas plásticas convencionais e é mais vantajoso do que culturas agrícolas especificamente cultivadas para a indústria de embalagens. Se projetado para, após a degradação, liberar nutrientes vegetais contidos em sua constituição biobaseada ao solo, tal material se alinha ainda mais com a visão de sustentabilidade.
No entanto, a circularidade plena muitas vezes transcende as especificações técnicas e materiais do objeto em si, e depende de regulamentações e culturas que a envolvem. A coleta circular e a compostagem do material de agro-resíduos são ações que podem reforçar uma agricultura mais eficiente em recursos, reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos. Por outro lado, se descartados aleatoriamente pelos consumidores, os benefícios potenciais deste biodigestor para a produtividade e sustentabilidade do sistema alimentar podem ser desperdiçados.
Alguns materiais biobaseados que não são circulares, apesar de sua natureza renovável, podem ser prejudiciais ao meio ambiente. Isso porque, embora geralmente signifiquem menos liberação de gases de efeito estufa durante a fabricação em comparação com seus equivalentes petroquímicos, os impactos ambientais na agricultura se acumulam cada vez que descartamos um produto substituto. Em contraste, se os materiais usados em um único produto biobaseado forem reutilizados repetidamente, os impactos iniciais da fonte, fabricação e transporte são distribuídos por uma gama muito mais ampla de usos.
O interesse consistente da União Europeia em expandir economias biobaseadas que são circulares pela sustentabilidade é exemplificado por iniciativas como o ‘Closing the Loop: The EU Action Plan for the Circular Economy’ de 2015 e o European Green Deal, evidenciando a circularidade como uma das vias principais para atingir objetivos climáticos. Investimentos e regulamentações adicionais da UE nessa esfera são essenciais para que investidores e fornecedores de matéria-prima circular biobaseada realmente possam decolar. O princípio do uso cascata de biomassa é um claro sinal do compromisso da UE com circularidade, obrigando a utilização eficiente de recursos finitos de biomassa em alto valor e evitando sua queima por energia — uma prática que depleta instantaneamente o material.
Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/why-does-the-bioeconomy-need-circularity/