Avanço significativo na área da bioeconomia é reportado com a inovação desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que criaram um chip bioeletrônico capaz de detectar simultaneamente as vitaminas C e D em fluidos corporais. O dispositivo destaca-se pela sua operacionalidade simplificada, podendo ser utilizado em um contexto de automonitoramento de micronutrientes em menos de 20 minutos, viabilizando dietas personalizadas e a prevenção de deficiências nutricionais.
As vitaminas C e D são essenciais para o suporte imunológico, e seus níveis adequados são cruciais para a saúde humana. No entanto, as técnicas convencionais de detecção dependem de infraestrutura laboratorial complexa e produção de resíduos potencialmente nocivos. Em contraposição, o chip desenvolvido sob o auspício do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) apresenta uma alternativa de baixo custo e alta eficiência.
Design inovador compõe o chip, que inclui dois sensores engenhosos. O sensor da vitamina D, construído com nitreto de carbono grafítico e nanopartículas de ouro, faz uso de anticorpos específicos para a detecção da forma mais abundante da vitamina D. Por outro lado, o sensor da vitamina C é constituído por nanopartículas de carbono e atua de forma eletrocatalítica.
A praticidade do dispositivo é exemplificada pelo simples acoplamento a um medidor eletrônico portátil. A inserção de uma amostra de saliva ou soro sanguíneo desencadeia a análise, com a posterior leitura dos sinais de corrente elétrica que demarcam a presença e concentração das vitaminas.
A pesquisa foi além da mera detecção, garantindo a seletividade e especificidade do chip diante de potenciais interferentes comuns em amostras de soro e saliva. Este feito foi possível através do estabelecimento de químicas de superfície distintas e ajustes em diferentes potenciais elétricos para cada sensor, superando assim a tradicional interferência entre vitaminas na mesma amostra.
Os implicados no projeto já vislumbram aplicações futuras do dispositivo, como a detecção de biomarcadores associados a diversas doenças, incluindo tipos de câncer. Reconhecem, todavia, a importância de estudos complementares para a validação do sensor e a aspiração subsequente de patentear e comercializar a tecnologia.
Num momento em que a bioeconomia busca alternativas sustentáveis e tecnologias acessíveis, iniciativas como a do chip bioeletrônico alinham-se a um futuro em que a nutrição personalizada e a monitorização da saúde podem se tornar práticas cotidianas acessíveis, contribuindo assim para um sistema de saúde mais proativo e preventivo.
Fonte: T.S. Martins, J.L. Bott-Neto e O.N. Oliveira Jr., ‘Label- and Redox Probe-Free Bioelectronic Chip for Monitoring Vitamins C and the 25-Hydroxyvitamin D3 Metabolite,’ ACS Applied Nano Materials, vol. 7, no. 5, pp. 4938-4945, 2024. DOI: 10.1021/acsanm.3c05701. Disponível em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acsanm.3c05701