Brasil lança iniciativa do G20 sobre bioeconomia com desafios geopolíticos

O Brasil, atual presidente do G20, deu início a uma iniciativa pioneira sobre bioeconomia, que busca estabelecer uma estrutura comum sobre a área, apesar das preocupações com possíveis revezes políticos que podem comprometer o processo, conforme relatado por um especialista envolvido nas discussões.

A Iniciativa do G20 em Bioeconomia (GIB), liderada por quatro ministérios brasileiros, tem a missão de redigir princípios de alto nível sobre bioeconomia, que vão constituir parte da Declaração do Rio, prevista para ser adotada pelos países do G20 ao final da presidência brasileira em novembro. Sem buscar definir precisamente o que é bioeconomia, a GIB prefere incentivar governos e o setor financeiro a promover investimentos em modelos econômicos sustentáveis que preservem a biodiversidade.

Abraçando diversas atividades e setores como agricultura, silvicultura, alimentos, energia, madeira e biotecnologia, a bioeconomia se destaca pela sua abrangência. Marcelo Furtado, da NatureFinance, ilustra o potencial positivo da bioeconomia citando exemplos de agricultura sustentável combinada com a restauração de florestas em terras degradadas, beneficiando comunidades tanto alimentarmente quanto economicamente, por meio da produção de biopolímeros a partir da extração seletiva de celulose das árvores plantadas.

Em meio a este esforço inovador, o receio do Brasil está no debate geopolítico entre o Norte e o Sul, que poderia contaminar as conversações, segundo Vicente Araujo, diplomata do Ministério das Relações Exteriores brasileiro. É preciso lidar com o desafio de alinhamento entre países ricos em biodiversidade, normalmente mais pobres, e aqueles ricos economicamente, porém pobres em biodiversidade. Furtado ressalta que a criação de novos instrumentos financeiros para apoiar a bioeconomia é crucial, juntamente com discussões sobre partilha de benefícios e monitoramento da biodiversidade.

Enquanto a GIB busca moldar novas políticas e mobilizar investimentos, diversos atores, como a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), apoiam a iniciativa, com um grupo de suporte totalizando 18 organizações.

No contexto da valorização da Amazônia, um programa de bioeconomia de US$ 250 milhões, anunciado pelo Banco do Brasil e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB), tem como alvo financiar produtos biológicos renováveis, favorecendo negócios amigáveis à biodiversidade. Esta medida visa não apenas à conservação, mas também a fomentar um mercado próspero e justo, criando ambientes econômicos que permitam a expansão florestal, segundo Tatiana Schor, chefe da unidade da Amazônia no IDB.

Um estudo do instituto de pesquisa WRI Brasil apontou que a bioeconomia já gera US$ 2,5 bilhões em PIB na Amazônia brasileira, com projeções indicando que investimentos adicionais poderiam elevar o PIB anual da região para US$ 8 bilhões até 2050, criando mais de 800.000 empregos e substituindo ocupações atualmente ligadas ao desmatamento. Em nível nacional, prevê-se que a bioeconomia possa gerar um adicional de US$ 284 bilhões por ano em receitas industriais até 2050, de acordo com a Associação Brasileira de Inovação em Biotecnologia (ABBI).


Fonte: https://carbon-pulse.com/264145/

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