Bioeconomia na amazônia brasileira: alta esperança, porém fundamentos incertos

O uso sustentável de produtos florestais não madeireiros (NTFPs) carrega consigo a promessa de equilibrar conservação ambiental e desenvolvimento econômico. No entanto, uma revisão sistemática focada na Amazônia brasileira revela que as altas expectativas para a bioeconomia baseada em NTFPs podem não estar totalmente fundamentadas em evidências empíricas robustas. O número de estudos sobre NTFPs na região é crescente, contudo o conhecimento acumulado é disperso e limitado principalmente a poucos produtos com alto valor comercial, como a castanha-do-Pará e o açaí.

Apesar de uma tendência positiva em relação à conservação florestal e ao atendimento às necessidades socio-culturais das comunidades locais, as limitações quanto à geração de renda local são destacadas. As pesquisas recomendam a diversificação da produção e a combinação da utilização de NTFPs com a venda de serviços ambientais para superar tais limitações. Contudo, existe uma preocupante escassez de conhecimento empírico sobre os efeitos de abordagens combinadas e diversificadas.

Para resolver essa lacuna, é sugerida uma agenda de pesquisa que inclui um framework analítico abrangente, capaz de realizar avaliações robustas de intervenções passadas e futuras. É vital entender o impacto real dessas iniciativas para apoiar a sua promoção bem-sucedida e implementação em escala.

Conclusões do estudo indicam uma necessidade urgente de diversificar fontes de renda florestal e de melhorar o entendimento sobre as sinergias e compensações entre os diferentes produtos e serviços. Esta urgência é amplificada por ameaças como o desmatamento contínuo e as mudanças climáticas, que já começam a afetar a disponibilidade de NTFPs e, por consequência, as oportunidades econômicas para os usuários locais da floresta.

O sucesso de iniciativas baseadas em NTFPs parece depender não apenas de gerar uma renda atraente e estável, mas também de fatores críticos como a proteção legal das áreas manejadas, a correspondência das intervenções com os grupos de atores com fortes vínculos culturais com as florestas e o papel do Estado e parceiros como facilitadores. No entanto, é necessário um melhor desenho de parcerias e uma governança de mercado eficaz para superar desequilíbrios de poder ao longo das cadeias de valor de NTFPs.

Diante do panorama apresentado, torna-se claro que a visão otimista de um modelo de desenvolvimento viável baseado em NTFPs para a Amazônia exige revisão e, principalmente, uma base de evidências mais sólida. O conhecimento profundo e crítico é imperativo para a tomada de decisões informadas e o investimento eficiente em projetos que vislumbrem o potencial bioeconômico da região amazônica.

Fonte: T. Rosenfeld, B. Pokorny, J. Marcovitch, P. Poschen, ‘BIOECONOMY based on non-timber forest products for development and forest conservation – untapped potential or false hope? A systematic review for the BRAZILIAN amazon,’ Forest Policy and Economics, vol. 163, 2024, 103228, ISSN 1389-9341, https://doi.org/10.1016/j.forpol.2024.103228.

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