Bioeconomia global: um mosaico de estratégias em busca de uma definição e aplicação consensuais

A bioeconomia, um conceito em constante evolução ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como vetor chave para enfrentar desafios globais, integrando-se cada vez mais às agendas de circularidade, transição verde e desenvolvimento sustentável. Um recente estudo comparativo global elucida como países e regiões concebem e priorizam estratégias dentro deste paradigma, evidenciando uma diversidade de entendimentos e a falta de uma definição e estrutura internacionalmente acolhidas.

Os documentos revisados sugerem que a bioeconomia atual flutua além da ideia inicial de substituição de combustíveis fósseis, abraçando um espectro mais amplo que inclui princípios de sustentabilidade e inclusão social. A variação de enfoques entre Europa, Ásia e as Américas sinaliza para uma concepção politizada do termo, com várias nações imbuídas nos princípios orientadores da bioeconomia. Até 2030, espera-se que as estratégias e políticas desse panorama sejam criteriosamente avaliadas, demandando apoios específicos e instrumentos financeiros para que investimentos se concretizem.

Na revisão, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) emerge como pioneira, ao publicar o documento ‘The Bioeconomy to 2030: Designing a Policy Agenda’, em que a biotecnologia surge como motor principal para inovação no setor. A União Europeia (UE), por sua vez, foca na transformação em direção a um modelo de sociedade circular, justa e sustentável, estabelecendo pontes com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Pacto Verde Europeu.

A estratégia norte-americana concentra-se em pesquisa e desenvolvimento (P&D), ao passo que na América Latina e no Caribe, o debate gira em torno da utilização de recursos naturais com ênfase nas mudanças climáticas e inclusão social. Em contraste, na Ásia, China e Japão delineiam trajetórias ambiciosas baseadas em biotecnologia e inovação, enquanto a África, representada pela estratégia da África do Sul, ancora suas metas em crescimento econômico e criação de emprego.

As estratégias nacionais na Europa são notoriamente alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e voltadas a modelos de produção e consumo circulares e verdes. Diferente dos Estados Unidos, onde inovação e biotecnologia são os pontos-chave, e da Ásia, onde há uma ênfase em soluções tecnológicas e biotecnologia como vantagens comparativas estratégicas.

Os resultados deste levantamento sugerem que a falta de um consenso internacional sobre a definição de bioeconomia pode representar um obstáculo para a implementação efetiva de princípios e práticas associadas. Ademais, prevê-se que as estratégias focadas em biotecnologia e produção de biomassa possam futuramente gerar conflitos relacionados à segurança alimentar, dos insumos e energética.

A conclusão inevitável é que a bioeconomia, enquanto conceito político, necessita de uma intervenção estratégica que favoreça a coordenação de políticas e a integração setorial, de modo a superar os atuais problemas na sua aplicabilidade prática. Assiste-se, assim, ao alvorecer de um esforço internacional no sentido de reunir e harmonizar diferentes perspectivas, convertendo a diversidade em um movimento sinérgico e sustentável em direção a uma economia global mais resiliente e verde.

Fonte: BIOECONOMY STRATEGIES: VISIONS AND PROSPECTS. Trakia Journal of Sciences

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