Avanços em biotecnologia impulsionam conversão de resíduos em bens circulares de alto valor

O potencial insustentável dos resíduos orgânicos como matéria-prima para produtos químicos e materiais está sendo reconhecido como uma alternativa eficiente em recursos, dado que a energia para sua produção já foi gasta uma vez. No contexto europeu, a União Europeia está incentivando uma bioeconomia circular baseada em resíduos em vez de matérias-primas virgens, embora, atualmente, apenas 22,7% de seus bioprodutos provenham de subprodutos.

O desenvolvimento tecnológico em bioprocessos está começando a superar a principal barreira de utilização de resíduos como feedstock: sua qualidade e composição química irregular. A solução inovadora tem sido a modificação de bactérias para que possam metabolizar esses resíduos e concentrem seus elementos úteis de forma eficiente. Ao aproveitar mecanismos biológicos complexos, os microorganismos podem converter diferentes compostos em produtos únicos muito mais eficazmente do que tecnologias puramente químicas. Assim, fábricas de micróbios estão transformando resíduos em bens circulares de alto valor.

Um dos campos que se beneficiam desses avanços é o da indústria da moda, onde biocolorantes microbianos oferecem uma alternativa não tóxica, biodegradável e não cancerígena aos pigmentos sintéticos convencionais. Além do rápido crescimento dos micróbios, a disponibilidade constante e a produtividade ajustável são vantagens desses biocolorantes sobre fontes vegetais ou animais. A startup indiana KBCols Sciences destaca-se nesse cenário, tendo escalado sua produção de corantes agroindustriais microbianos de 10 gramas para a fase piloto industrial. Seu objetivo é expandir seus produtos não apenas para a indústria têxtil, mas também para cosméticos e alimentos até 2028.

Outra área inovadora é a da proteína alternativa. A startup holandesa Afterlife criou uma proteína vegana neutra em sabor feita a partir de alimentos descartados por restaurantes, usando a fermentação fúngica para transformar esses resíduos em alternativas proteicas sustentáveis. A empresa Zayt, por sua vez, está desenvolvendo gorduras vegetais que replicam as propriedades químicas das gorduras animais, usando fermentação de precisão para valorizar frutas desperdiçadas.

No setor de alimentos para animais, a utilização de resíduos agroindustriais subprodutos de cereais pode não suprir adequadamente as necessidades nutricionais dos animais. MicroHarvest está abordando essa questão, convertendo resíduos de açúcar e alimentos em uma colheita durante todo o ano de proteína bruta micelial para o mercado de rações. Isso representa uma forma de otimizar o valor nutricional dos resíduos e diminuir os impactos ecológicos do setor.

A produção de enzimas industriais de baixo custo é outro desafio sendo resolvido pelo uso de resíduos agroindustriais como substratos para microorganismos produtores de enzimas. A empresa indiana IT-Madras isolou uma bactéria capaz de decompor resíduos lignocelulósicos recalcitrantes e produzir enzimas industriais, enquanto a Fermentech está transformando resíduos agroindustriais em enzimas essenciais para diversas indústrias.

Os desafios para escalar a fermentação circular incluem questões econômicas e logísticas, como o custo de coleta de resíduos, bem como técnicas para classificar, limpar e processar. Ainda existem obstáculos técnicos referentes ao metabolismo microbiano, pois muitas cepas de micróbios são ineficientes na conversão de resíduos em produtos úteis. Pesquisadores buscam resolver isso ajustando sua composição genética para criar bibliotecas de micróbios que possam produzir produtos-alvo a partir de resíduos de muito baixa qualidade que, de outra forma, não teriam utilização.


Fonte: https://worldbiomarketinsights.com/microbe-factories-are-turning-waste-into-high-value-circular-goods/

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